Devir é um conceito da Filosofia e denomina transformação intensa da vida, a partir dos encontros que construímos. Inspirados por este conceito, oferecemos nosso espaço e nosso trabalho para que possamos produzir transformações, as quais sejam por uma vida alegre, criativa e engajada social, política, ecológica e eticamente.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Silencioso vaga-lume: divulgando o blog de um aluno-amigo / amigo-aluno



Aquele aluno tem cara de peladeiro
gel no cabelo
riso e óculos escuros
Marra falsa

Política de quem sente
silencioso
e forte

Um professor só ganha o melhor dele
quando sabe escutar que o tom é outro
encaracolado nas sensações
Ele é um dos raros
dos poucos
dos que jorram como um rio bebê

Vale a pena ser professor,
porque tem alguns destes erros secretos
Que precisam ser deseducados
para virarem pedriscos avermelhados
e nos emocionar
com cores rubi
nuances Rubim!

____ ,, ____

Esta é uma pequena dedicatória ao blog de um aluno/amigo e poeta, que muito pouco participava das aulas com falas, mas era o tempo todo perfurado pelos conceitos que eu levava.

Estou ajudando a divulgar este blog nascente (http://rubincarvalho.blogspot.com), justo na época do natal. Realmente, ainda vale dar outros sentidos mais delicados e intensos à palavra natal!!

sábado, 17 de dezembro de 2011



Workshop – Vivências teórico-práticas em Esquizo-nálise
Rio Verde - GO
Com o tema: Morte e Vida: por uma educação dos afetos, por uma clínica da diferença.
Estudar e vivenciar estas conceituações de morte e vida é de extrema importância para a atuação dos profissionais da área da Saúde e Educação, principalmente quando se trata de pensar a morte e vida como um processo cotidiano, seja dentro da produção de conhecimento, seja no trabalho de promoção de saúde.
Desse modo, partiremos da perspectiva da Esquizo-análise para pensarmos, através de vivências práticas, as Mortes como paradas dos fluxos e a Vida como processos dinâmicos.
Tendo como base os filósofos Deleuze, Guattari, Espinosa e Nietzsche, iremos experimentar, na prática, uma educação que parte dos afetos e uma clinica dos desvios das mortes-paradas. Assim, pretendemos construir uma saúde poética e ativadora dos fluxos potencializadores da vida.
Vagas limitas! (Máximo 25 participantes)
Terapeutas-propositoras
Ângela Vieira – psicóloga, formada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), especializada em Saúde Pública e Saúde Mental, pós-graduada latu-sensu em Clinica de Grupos e Esquizodrama, bailarina, professora e pesquisadora de Dança do Ventre.
Juliana Bom-tempo – psicóloga, formada pela Universidade Federal de Uberlândia – MG, Mestre em Psicologia Clínica – UFU, Doutoranda em Educação pela UNICAMP – Campinas /SP, experiência em Artes, Saúde, Clínica e Educação, pesquisadora e professora universitária.
Datas: 28 e 29 de janeiro de 2012.
Horário: 8h00 às 17h30 (intervalo para almoço)
Inscrições até dia 18 de janeiro de 2012 com Larissa Bueno (Professora FESURV larissa_buenorv@hotmail.com), Nathália Campos (Psicóloga nathalia_campos_matos@hotmail.com) e Camila (FESURV camilasc25@yahoo.com.br) .
Obs: os participantes receberão material didático e certificado.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

LANÇAMENTO DO LIVRO CORPOAFECTO, DE AUTORIA DE NOSSA QUERIDA MESTRA MARÍLIA MUYLAERT


Divulgamos aqui o lançamento do livro de uma de nossas mais importantes e admiradas Mestras de nosso ofício de feitiçaria afectiva. ESTÃO TODOS CONVIDADOS A ESTAR PRESENTES E PRESTIGIAR!

PARABÉNS QUERIDA MARÍLIA!

Lançamento do livro CORPOAFECTO: O PSICÓLOGO NO HOSPITAL GERAL - Autora: Profª Dra. MARÍLIA MUYLAERT

Quando?
17/12/2011, sábado

Que horas?
11h - 13:30

Onde?
Livraria Pulsional - R.Ministro Gastão Mesquita, 132 - bairro Perdizes - São Paulo / (11) 3672-8345

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Nobreza e força dos alunos


Hoje já tomei meu copo de liberdade
Minha taça de alegria
e meu elixir de amizade!

Queridos alunos da Esquizoanálise: agradeço o respeito com que estiveram comigo neste semestre e celebro a alegria de transformar nossa sensibilidade em algo mais nobre, mais delicado!

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Ressonâncias da Oficina de Esquizodrama Experimentando estados de tensão: da musicalidade árabe às micro-percepções

In-tensivo. Tensivo. Tensão. Experimentamos atmosferas tensivas. Se antes a tensão se alojava naquelas contenções, contraturas e oposições de força, vimos que onde há encontro há tensão.

E há tensões de inúmeras naturezas. Não falemos de mais tenso ou menos tenso.Falemos de qualidades tensivas, da dinâmica molecular dos afectos.

Quando saboreamos e atravessamos os incômodos, virtualidades se atualizam.

A vida inventa por composição, por receptivatividade.

Manhã de domingo, 27 de novembro. Foi surpreendente: o intensivo-extensivo pode ganhar desenhos provisórios.

Abrimo-nos para o caos perturbador. Não nos privamos de espernear. E experimentamos o combate às forças reativas. Agressividades vieram à tona: sair da representação dá trabalho, é forçoso.

Pudemos raspar algumas de nossas repetições. Pudemos sustentar o combate agressivo. A fúria assaltou o ego e abriu valas arejadas no corpo.

E foi terra se escorrendo. Dragões jorrando fervuras, silêncios, inverborragias fervilhantes, gigantismos corpóreos: conexões dilatando corpos, encompridando-os.

E não há nada dentro, só superfície. "Aconchegos sonoros". "Devir-criança argilar".

Revoluções de vidas na curva da diferenciação; explosões silenciosas ganharam som, ganharam pele.

Aos navegantes, voadores, incendiários e corredores de terra: alegria, carinho e agradecimento pelo encontro e abertura.

Sigamos fortes e atentos as micro-tensões diversas que experimentamos em nossos encontros. Elas são nossos guias da imanência.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Vídeo palestra sobre corpo, intensidade e saúde

Aqui estamos postando o link de um vídeo de uma palestra de uma intelectual brasileira que traz importantes pensares acerca da maneira como se vive o corpo em nossa contemporaneidade. Postamos apenas o link porque não pudemos carregar o vídeo aqui.

É que, além de postagens de idéias, trabalhos, poesias e pensamentos nossos, queremos que este espaço também seja local de divulgação de conhecimento e de trabalhos de pessoas importantes em nossas vidas. Não conhecemos a Profª. Hélia Borges, mas seu trabalho parece ser importantíssimo para nós que mexemos com klínica a partir do corpo e das artes. Pegamos este vídeo do perfil do Facebook de uma querida amiga nossa, a Natália Esteves. Esperamos que usufruam das interessantíssimas e cuidadosas colocações de Hélia Borges.

Ainda precisamos, afinal, devir-corpo, devir-intensidade. O corpo orgânico, o corpo da forma e da saúde medicalizada não deve se confundir com uma saúde corporal nietzscheana, mais viva, mais intensa e profunda.

Universidade Pública??!! Manifestação dos alunos desautorizada

A Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), em que trabalho, embora seja nova (tem menos de cinco anos e não tem ainda nenhuma turma de Psicologia formada), já apresenta problemas sérios. Os professores estão sobrecarregados de aulas porque faltam professores efetivos (eu, por exemplo sou apenas temporário), não há assistência estudantil (restaurante universitário, moradia etc.), falta espaço físico para aulas e laboratórios.

Ante-ontem, dia 22/11 muitos alunos do curso de Psicologia haviam colado inúmeros cartazes de protesto, reivindicando a contratação de professores, criticando a ausência de R.U. etc. (a imagem acima foi feita por duas de minhas alunas e postada no Facebook)

A minha grande surpresa foi ver que já no dia seguinte, ontem, dia 23, os cartazes haviam sido retirados!

Fui me informar e soube que eles haviam sido retirados pela zeladoria do prédio porque precisavam de autorização para serem colados!

De início pensei que tivessem sido as faxineiras do prédio, que são terceirizadas. Uma delas, aliás, disse que achou ridículo os alunos fazerem aquilo. Perguntei por que. Ela disse que era besteira o que eles diziam. Bem, claro que não me calei e a informei de todos os problemas que havia e eram fatos. Ela se surpreendeu ao saber que o que os alunos exigiam era legítimo.

Pois bem, gostaria de deixar expressos meu apoio aos alunos e à sua manifestação.

Também, como professor e, acima de tudo, como educador desta universidade, gostaria de deixar uma palavra educativa, com o perdão da imodéstia que isso possa soar ter. Esta palavra vai especialmente para os gestores desta universidade e para os responsáveis pela "zeladoria" do prédio.

Saibam que esta é uma universidade pública, não uma instituição privada. Não é uma empresa. A manifestação e a expressão de qualquer dos grupos e indivíduos que dela usufruem deve ser livre! Estamos passando por problemas sérios! Neste sentido, o público a quem os serviços desta instituição se destinam deve ter toda a liberdade de expressar-se e manifestar-se. A mediação ou interferência de qualquer instância se configura como violação da possibilidade de exercício de cidadania e resistência. Sendo uma universidade pública, seu território pertence ao aparelho estatal, mas deve ser controlado prioritariamente pelos seus usuários. Exigir autorização para a manifestação de consciência da realidade que se vive é uma refinada e violadora maneira de burocratizar o espaço público e a intervenção ativa dos estudantes. Trata-se, por isso, de uma forma de privatização arbitrária daquilo que é de uso público. Além disso, trata-se de uma violação da democracia, a qual, só pode ser de fato democracia, quando é direta, não representativa e quando permite embate e conflito. Podemos dizer, ainda, que viola-se, com um ato aparentemente tão banal, aquilo que é parte essencial da formação destes estudantes e que justamente os diferenciaria de sujeitos constituídos numa instituição privada: a crítica à realidade, o exercício da cidadania, a apropriação ativa das questões e problemas vividos e, especialmente, a politização, se concebemos que a política seja o exercício de determinar e contra-determinar as diferenças de força e poder existentes na realidade.

Se quisermos ser legalistas, para que pareçam mais palatáveis estas minhas palavras (embora o legalismo irrestrito seja sintoma de grave e boçal servidão), podemos dizer que este tipo de burocratização fere direitos constituídos neste país.

Estes dias, depois de trocar algumas palavras com um de meus mais sensíveis mestres, o Prof. Dr. Gregório Baremblitt, pude ter clareza daquilo que antes se apresentava como um impasse, quando postei o tópico falando sobre a intervenção da polícia na USP. Naquele tópico eu dizia, quase que apenas intuitivamente: "prestemos atenção, o problema da segurança na USP é só um sintoma, não é a grande questão. Há algo mais, algo além." Porém, não sabia dizer bem o que era. O prof. Gregório comentou a postagem: "seria interessante se os alunos deviessem cidadãos e criassem uma comissão própria de segurança interna".

Pois bem, a questão mais além a que me referia era essa! Nas universidades públicas, os alunos precisam ainda devir-cidadãos, precisam pegar nas mãos o espaço público, tomá-lo dos aparelhos de vigilância e violação, contra-efetuar um poder que quer se adonar daquilo que é propriedade de todos e, neste sentido, privatizar subjetivamente. Os alunos não devem depender de estância estatal alguma para exercerem aquilo que Hannah Arendt chama de ação entre os homens, ou seja, exercitar a liberdade, a ação no espaço público.

Notemos bem, a liberdade é um exercício, uma prática feita privilegiadamente nos espaços públicos; ela não vem feita, ela não depende apenas de des-repressão, de indeterminação. Muito pelo contrário, a liberdade é o exercício ativo da determinação, uma determinação intrínseca aos grupos; uma determinação por parte dos grupos, das forças que os constituirão e nutrirão, das suas potências, das ações concretas. Na USP é isso que está em questão, para além do problema da segurança e da presença da polícia no campus. Na UFTM, é também isso que está em questão!

Essa é a problemática transversal que perpassa e alinhava o problema da polícia na USP e este acontecimento aparentemente mais brando e insignificante que houve na UFTM com alunos para quem dou aulas. Eu reitero: APARENTEMENTE mais brando! Porque, afinal, trata-se da violação mais cotidiana, da estupidez institucionalizada, da privatização e embotamento do espaço público, da corrupção dos corpos dos estudantes, naquilo que se refere às suas forças de ação, à sua educação.

Eu me pergunto, esta universidade é pública mesmo, ou é um shopping de conhecimento técnicista cujos donos são uma meia dúzia de coronéis de estetoscópio???!!!

O que vejo é que se precisa de autorização para ser politizado e exercitar a cidadania, mas não se precisa de autorização para privar os alunos de bons serviços públicos e de professores que possam se dedicar a oferecer, além de aulas técnicas, projetos de pesquisa, serviços de extensão à comunidade, formas de saber questionadores, engajados e comprometidos com os processos sociais.

Bem, espero sinceramente que os estudantes da UFTM não aceitem este tipo de violação refinada, mas concreta e produtora de adestramento. Eles sabem, têm meu apoio e minha ação concreta para lutar com isso.

Espero ainda mais ansiosamente que este tipo de prática não se repita por parte desta universidade, já que ela se pretende pública e capaz de oferecer uma formação integral e crítica aos alunos.

domingo, 20 de novembro de 2011

arte ou romantismo











Bem, desta vez gostaria de falar sobre algo que vem me incomodando bastante ultimamente: posicionamentos que se costuma ter sobre a arte.



- tratar a arte como entretenimento: prática midiática, televisiva, que produz filmes, peças de teatro, pintura, para distrair, divertir ou, o pior, engabelar, surrupiar a sensibilidade. Artes para preencher o fim de semana, para empobrecer culturalmente, para fechar a sensibilidade do público. Arte de massa.



- tratar a arte como terapia: prática psicologizante, medicalizante, que faz da arte algo que serve para sanar adoecimentos. Bem, aqui sei que estou sendo polêmico, já que uma das formas de cuidado mais produtoras de saúde no campo da saúde mental é o oferecimento de oficinas artísticas para os usuários. Mas, calma. Estou falando especificamente de duas formas de uso terapêutico da arte que considero problemáticas.
Em primeiro lugar, talvez uma forma muito capturada e mistificante de uso da arte seja a de oferecer a arte como recurso para usar uma interpretação psicológica da produção artísitica: dar sentidos interpretativos, baseados em significantes pré-fabricados por uma teoria da subjetividade ou, ainda pior, por um senso comum: "veja, o paciente encheu a tela vermelho, significa sangue, violência." / "olha o menino desenhou um super-homem, deve se sentir onipontente." São maneiras de ignorar os sentidos produzidos pelas pessoas na relação com suas produções, com as cores, com os pedaços de mundaneidade, com os afectos inumanos, com as emoções sutis. São formas de tapar as diferenças, colá-las sobre significados fáceis e confortáveis, todos vindos de fora e não da relação.
Além disso, quanto ao uso terapêutico da arte, também não acho produtivo quando se parte de um espontaneísmo. Dá-se tinta, barbante, argila e canetinha para os usuários e se deixa que fiquem mexendo nos materiais. Chama-se isso de experimentação livre, quando em muitos casos não passa de desrigor e desrepeito à força do usuário ou paciente do serviço terapêutico: desrigor porque essa prática deixa aparecer o despreparo dos terapeutas, que se propõem a oferecer uma oficina sem sequer aprenderem ou se desafiarem um pouco a lidar com a arte de maneira séria, buscando conhecimento, técnicas, modos de uso dos materiais, recursos, procurando aguçar a sensibilidade; desrespeito porque parte do princípio de que qualquer coisa que seja feita está boa, de que o usuário não é capaz de aprender, de incorporar recursos e técnicas que lhe possibilitarão, inclusive, expressar mais precisamente, mais delicadamente aquilo que deseja colocar na tela, na argila, no papel. Daí, fica-se oferecendo tinta seca, canetinha (que muitas vezes não funciona), folha sulfite e lápis de cor, quando haveria uma gama muito maior de materiais para serem explorados, serem conhecidos e experimentados, quando se poderia brigar por ter material de qualidade, que não se limitassem a níveis escolares. Não há nada de livre nisso, não há nada de experimental e muitos menos espontâneo, porque não se pode ser espontâneo quando se está limitado ao que se conhece, ou ao que nem se imagina que se possa conhecer; não se é livre quando se está determinado pela ausência de recursos, de conhecimento, de possibilidades de expressão; não é experimental, porque só se pode experimentar algo que traga para perto o desconhecido e, nesta situação, em muitos casos se está apenas em contato com o pouco que se conhece e se pode.



- tratar a arte como produção privilegiada de uma classe social, ou de uma cultura: concebe-se, a partir da exclusão e do preconceito, que a boa arte é a arte de galeria, a arte acadêmica, muitas vezes europeizada. MAS TAMBÉM, NÃO MENOS EMPOBRECEDOR é pensar que a boa arte seja apenas a arte popular, ou a arte nacional. Há péssimas e geniais artes sendo produzidas em divesos lugares do mundo e da sociedade, por diversas classes, por diversas pessoas.



- tratar a arte como hobby, para relaxar, para passar o tempo: é um modo muito próximo da arte midiática. Lembro de um documentário que assisti na TV Cultura que mostrava a arte de um rapaz que era carcereiro da polícia e que tinha um pequeno ateliê em casa e pintava as pessoas que conhecia, que estavam presas. Ele dizia: "Me irrita quando as pessoas dizem que pintar relaxa, que é bom porque relaxa! Para mim é o contrário! Eu fico estressado quando pinto, a arte me estressa!" Sim, só para os não artistas a arte tem objetivos tão pouco ousados! Como diz Nietzsche, é muito condenável tratar a arte como divertimento e chamar isso de cultura. Ora, dizem Guattari e Deleuze, o artista é um mostrador de afectos, é um emoldurador de uma porção do caos. Como alguém que toca, desenha, produz instalações, posso dizer: a arte não é arte sem tensão; dar passagem para um pedaço de caos, colocá-lo no papel ou numa sala não tem como ser tranquilo, a não ser que fiquemos pintando flores em panos de prato! A arte não serve a nada, mas ao trazer o caos, ela traz tensões, intensidades, vibrações fortes! Tocar um instrumento exige zelo, rigor, não é relaxante. Mesmo a arte experimental é criteriosa e rigorosa. Só os não artistas tratam a arte como espontaneísmo. Mesmo no quadro mais abstrato, o espontâneo é apenas superficial. A arte não é hobby, não é algo para se deixar fazer fora do trabalho, mas, acima de tudo, é algo em que se trabalha para fazer.



- tratar a arte como acesso ao místico ou ao mítico: aqui também muitas vezes se encaixam os modos de arte psicologizados. Restringe-se a arte a uma gama de temas e estéticas extremamente determinadas, embotadas. Não se pinta mais do que mandalas, símbolos religiosos, figuras lendárias. Pauperização estética e afectiva.



- arte e artesanato seriam a mesma coisa: não! arte e artesanato não se confundem(!!), mesmo que muitas vezes objetos de artesanato sejam mais artísticos do que muitos objetos de arte. Bem, o que estou chamando de artesanato é aquela atividade de passar o tempo, ou encontrar uma fonte de renda, a partir da simples operação de colagem e consumo de objetos semi-prontos encontrados em lojas do ramo. Posso parecer preconceituoso, mas o que quero dizer é que arte é processo, é fabricação processual de heterogeneidades. Cozinhar, por exemplo, é muitas vezes artístico, mas McDonald´s e restaurante de prato executivo não é arte, claro. Acontece que muitos artesanatos são arte, assim como muitos objetos de arte não passam de artesanato. Mas não pode ser arte algo que é produzido em escala industrial, ou que é produzido a partir de processos facilitados de montagem, para reduzir a tensão do processo de criação. Já imaginou se os grafiteiros resolvessem comprar os moldes de seus desenhos nas lojas para poder pintar os muros da cidade? Arte exige trabalho, processo, cuidado, tempo.



- por fim, colocar metas à arte: a arte pode não ser diretamente política, pode não falar diretamente de problemas sociais, pode não servir terapeuticamente, pode não servir para nada! Ainda assim ela estará fazendo política, estará produzindo cuidado, estará produzindo diferença no mundo. A arte faz política por consequencia, não por meta. Produz cuidado por consequencia. Objetivar a arte, ou seja, fixar-lhe um objetivo, é encurtá-la, limitá-la, inclusive no que tange a esta meta colocada!



Bom, sei que posso ter provocado e incomodado muita gente com este tópico. Mas espero que eu consiga ter me feito compreender na precisão daquilo que estou criticando. Não pretendo alimentar preconceitos. Justamente, pelo contrário, estou dizendo que há muitos conceitos de arte que não passam de preconceitos, ou de uma visão romântica da arte, uma visão investida de fetiche, que parte de um olhar não artístico da arte, de um ponto de vista exterior. Toda vez que se limita arte ou se a trata com descuido ela está perdendo força. Rigor não quer dizer academicismo ou determinismo, assim como liberdade não implica em falta de zelo com a arte. Gosto muito de uma noção de arte que aprendi com a Ângela, que aprendeu com um professor de teatro da Unicamp: arte é cultivo. A arte é uma forma de cultivar, como se cultiva uma planta, uma relação, um encontro. Não temos como definir duramente o que É arte, mas nem por isso arte é qualquer coisa. Dedicar-se com seriedade a uma arte não é criar uma relação rabugenta com a arte, nem tornar-se profissional, mas, antes de tudo, cuidar de nossas porções de caos, de intensidade, de nossa sensibilidade incomum, de nossa heterogeneidade. Cultivar uma arte é aprender também a alimentar-se das forças que se encontram imanentes a nós, ao alcance de nossa criatividade. Por isso sou muito a favor da arte amadora. A arte me parece uma grande forma de fortalecer-se, encontrar nossa potência: uma alternativa ética e política à opção que vejo ser muito comum atualmente, qual seja, a de suprir a desnutrição afetiva apenas consumindo, seja a produção alheia, seja, muito pior, indo ao shopping torrar dinheiro e encher a casa de quiquilharias.



Para encerrar, gostaria de deixar uma frase que me veio hoje, meio que como epifania: a arte torna o impossível realmente, ela torna o realmente impossível.




Faça-se a interpretação que a nobreza de cada um possibilitar.

domingo, 13 de novembro de 2011

Impasse: polícia na USP.


O que gosto de chamar de impasse é todo problema que parece complexo demais para termos certeza do que estamos pensando sobre ele no momento e para que tenhamos tão rapidamente uma solução. São problemas nos quais farejamos a imensa complexidade, tomando como sintoma negativo, as polarizações binárias a que a mídia ou os modos de pensar morais os limitam.

Pois é, o problema da presença da polícia dentro da cidade universitária nos aparece como grande impasse. Há uma semana temos lido sobre o assunto nos jornais e sites de notícias, e temos acompanhado os ditos de colunistas respeitáveis e sérios como Gilberto Dimenstein e Raquel Rolnik. Mas esta questão segue deixando muitas perguntas, porque tudo o que se diz sobre ele parece pouco e apenas parte de um problema maior.

Não quero nem comentar sobre as opiniões mais precipitadas, preconceituosas, moralistas, ressentidas e medrosas que têm surgido. Vamos tentar não cair nesta baixeza, típica do senso comum.

Trago aqui algumas linhas de questionamento que, claro, não têm a menor pretensão de totalizar a problemática:

Pois então, dos inúmeros papéis que a universidade têm, talvez, um dos mais negligenciados seja a extensão - até por causa de uma atual moral da produção acadêmica a ritmos industriais -, isto é, o diálogo com a sociedade e com a realidade fora do mundo acadêmico, o oferecimento de serviços e modos de acesso ao conhecimento, que tragam usufruto de todo saber e tecnologia produzidos. Neste contexto, se a universidade não chega até o mundo lá fora, levando modos de pensar inovadores, o mundo vai entrando cada vez mais nu e cru, para dentro da universidade: a violência, a insegurança, a moral restrita e reativa que resume o problema da violência a uma necessidade de segurança, tudo isso vai invadindo a terra protegida que o mundo acadêmico tem sido. Neste sentido, o problema da presença da polícia militar dentro da USP não parece ser um problema real. A mim, parece mais que o que se coloca em xeque é o que a universidade é capaz de produzir em benefício do social e, ainda, de que modo ela de fato está acompanhando os rumos do que acontece fora de seus portais.

Ora, até que alguns estudantes fossem presos por fumar maconha estava tudo bem? Antes disso, quando a PM começou a estar presente lá dentro, quando a PM começou a circular ostensivamente pelas ruas em diversas cidades do país, quando as ruas se encheram de câmeras de vigilância, onde estávamos todos nós, que ficamos olhando tudo isso acontecer? Onde estavam os foucaultianos, estudiosos do panóptico e do biopoder, que não trouxeram nenhuma intervenção prática à vigilância?

Fico encabulado, um pouco envergonhado, de ver que as coisas passam a ser problematizadas quando quem faz as perguntas é a mídia. Daí tudo parece mesmo ser uma questão de poder fumar maconha, ou não, de isso estar, ou não, ligado a um livre pensar, de isso estar, ou não, ligado a uma liberdade dos corpos, de estar, ou não, havendo problemas de violência dentro dos câmpus. A problematização já começa amortecida por uma série de desvios, que especialmente criminalizam ou julgam aqueles que resistem em aceitar algumas decisões reacionárias. No fim, fica tudo girando em torno de sim ou de não, de julgar os estudantes que invadiram a reitoria como revolucionários retrógrados, drogados birrentos, filhinhos de papai pseudo-militantes... O próprio início da questão já vem poluído de uma série de preconceitos e clichês.

E aí, a democracia é chamada por todos os lados. Só que sempre se chama um conceito de democracia superficial, que é veiculado pela mídia e pela moral burguesa. Quer dizer, por exemplo, seria mais democrático manter a PM dentro da USP, uma vez que, segundo o site da Folha de São Paulo, 58% dos estudantes apóia a presença da polícia? Desses 58% a grande maioria que apóia são dos estudantes dos cursos de exatas e biológicas, nos quais mais de 70% são a favor de conviver com a PM. Só que estes são os cursos que tradicionalmente secretam os pensares e posicionamentos mais reacionários e baseados numa moral do senso comum! Foi dito nos jornais que o reitor não é democrático... mas, que reitor teria uma universidade em que mais de 70% dos estudantes não é capaz de problematizar sua própria segurança sem desejar a presença de um braço estatal truculento e ambíguo como a polícia? Não haveria mais democrático reitor, para uma classe estudantil como esta.

Raquel Rolnik fala muito acertadamente de como a arquitetura da cidade universitária, projetada nos tempos da ditadura favorece a existência de violência - inclusive da polícia
- porque há enormes espaços vazios, desabrigados, em que apenas o cimento toma lugar. O problema da segurança deveria levar em conta um fator como esse. Concordamos absolutamente com ela, se consideramos que o problema seja realmente segurança.

Mas... e se o problema central não for a violência e a segurança? Ou ainda, de que modo, a própria presença da polícia no câmpus é já a primeira violência, ou a violência por excelência? Quer dizer, a presença da polícia seria apenas mais uma violência, mas mesmo a violência não seria antes um sintoma do que a causa? É claro que sou contra a PM dentro da universidade, assim como sou contra a violência que os estudantes têm sofrido. A polícia nunca foi e jamais será pacífica e promotora de segurança, ela jamais será uma força de vida! Mas ser contra ou a favor não me parece ser a questão.

Digo, de que modo o problema da violência dentro do câmpus é apenas sintoma de algo mais amplo e complexo? Antes de pensarmos se somos a favor ou contra a PM, talvez pudéssemos pensar como é que aparece a polícia como possibilidade de solução de um problema vivido pelos alunos e como este problema vivido é sintetizado como sendo questão de segurança.

Pressinto que, se desnaturalizamos o modo como as perguntas estão sendo feitas, começamos a adentrar de fato a complexidade dos eventos e daí podemos fazer perguntas mais precisas, livres dos ruídos midiáticos e morais. Será, no fim, que tudo isso, da maneira como está sendo discutido, não é um modo de desmobilizar uma discussão, ao invés de promovê-la? Não estou falando, como comumente se faz, que estão querendo desviar nosso olhar, para não vermos problemas mais duros. A ilusão não é óptica, mas antes auditiva! Antes que se possa discutir, já há uma imensa e sonora tagarelice nos ensurdecendo.

Não quero trazer nenhuma opinião feita, mas me questionar um pouco mais. Não quero também parar no impasse e confortar-me neste lugar de fazedor de questões. Mas, gostaria muito de poder escutar as pessoas a quem mais interessa resolver esse impasse: os próprios estudantes. Por que ninguém promove ou permite condições para que eles falem, afinal?

Uma discussão séria e consistente ainda não começou! Sigo confuso e aturdido. Não tenho nenhuma solução, mas meus ouvidos estou tentando limpar!







segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Oficina de Esquizodrama - Experimentando estados de tensão: da musicalidade árabe às micro-percepções.

A praticidade que nos é exigida hoje, em nosso cotidiano de trabalho e estudo não nos pede uma força de invenção e sim de adaptação. É um modo de vida racional, que não considera nossas sensações e emoções, e faz com que nosso corpo entre num funcionamento mecânico, controlado e imediatista.

Assim, a partir de nossa prática e pesquisa com danças e musicalidade árabes, gostaríamos de oferecer uma oficina de esquizodrama aberta a todo o público interessado em exercitar sua sensibilidade com sutileza e criatividade.

Mesclando alguns elementos sinestésicos com exercícios de audição musical, dança árabe e performance, vamos construir uma atmosfera de sensações, rica em sutis percepções. Trabalharemos as sensações considerando-as estados de tensão equivalentes às qualidades de matéria: terra, ar, fogo e água.

Acreditamos que esta oficina possa contribuir para o exercício da criatividade, da sensibilidade, assim como para a descoberta de novas formas de expressões corporais dos(as) participantes.

VAGAS LIMITADAS! (MÁXIMO 10 PARTICIPANTES)

Facilitadora: ÂNGELA VIEIRA – psicóloga, formada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), especializada em Saúde Pública e Saúde Mental, pós-graduada latu-sensu em Clínica de Grupos e Esquizodrama, bailarina de Dança do Ventre e pesquisadora.

Data: 27/11/2011

Hora: das 9h às 11:30

Local: dEVIR Klínicas Terapêuticas, Educação e Arte

R. João Modesto dos Santos, 293 – Uberaba - MG

(travessa da Av. Odilon Fernandes, altura da pizzaria Fornace)

Inscrições, valor e demais informações: (34) 3321-7231 / (34)9232-2444 angelitacaju@yahoo.com.br

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Inquietação

Rastros de barro

Rabichos de burburinhos

Restos de onde brotam vermes

E formiga

E coça

Coçamos insones

Coçamos acumulando inacabamentos

Fazemos crescer o burburinho

Alastramos feito pimenta que se quer matar com água

A inquietação é um rizoma

Erva gramínea de nossa insensatez

De nossa impaciência

De nosso pragmatismo vão

Respiremos em nossa inquietação

Criemos um corpo elástico capaz de pulsar em nossas incorporeidades inauditas

A vida por si só nos sinaliza que não dar conta é simplesmente um posicionamento

escravo e piedoso.

devir-animal para desedipianizar e também para nos fazer mais fortes

















Hoje vi um vídeo http://www.facebook.com/video/video.php?v=1442880264742 postado no Facebook pela Profa. Maríllia Muylaert (uma de minhas grandes mestras), que mostrava um homem que vivia junto de leões como se fosse parte deles. Já havia visto um caso ainda mais extremo, de um homem que vivia com lobos (fotos à esquerda): era todo descabelado, chegava a lambê-los e mordê-los, e tinha cicatrizes no rosto, por causa das brincadeiras naturais dos seus companheiros bichos. Daí, lembrei de algo que li há alguns dias em uma reportagem, que falava de pessoas que criam dezenas de animais e supostamente teriam uma compulsão por criá-los. http://f5.folha.uol.com.br/estranho/986840-ciencia-tenta-explicar-compulsao-de-pessoas-por-acumular-animais.shtml

Trata-se de pessoas que criam dezenas e às vezes centenas de cães, gatos ou outros bichos.
Segundo os ditos especialistas consultados, as pessoas teriam uma espécie de vício em criar animais. Estas pessoas estariam tentando superar um trauma ou buscando preencher um vazio na vida.

Gostaria de deixar manifesto que, como trabalhador da área Psi, como terapeuta e pesquisador, discordo terminantemente deste tipo de explicação. E discordo duplamente, pelo fato da mídia compactuar com um poder médico psiquiátrico que tem apreço por patologizar os modos de vida mais formidáveis, ou mesmo alheios à lógica dominante. É preciso deixar claro: essa explicação dita científica e este tipo de publicação midiática serve apenas para chamar as pessoas de doentes e alimentar uma profunda incompreensão (nos termos spinozanos) e violação das diferenças.

Por que, por exemplo, não se chama e doentes esses latifundiários que têm compulsão por destruir florestas para criar suas milhares de cabeças de gado, ou por assassinar tribos indígenas e comunidades campesinas para plantar cana de açúcar???!!!

Sinto vergonha destes profissionais Psi (psicólogos, psiquiatras, psicopedagogos etc.) que aparecem na mídia para difamar as diferenças, as singularidades e multiplicidades de que somos capazes.

Mas alerto: não somos todos os profissionais Psi que pensamos a partir desta estirpe baixa de conceitos.

Viver com 60 cachorros, 100 gatos, viver no meio de leões ou lobos, mordendo-os, dormindo com eles, próximo de seus pêlos, de seus cheiros fortes, de seu jeito saudavelmente instintivo de agir: não seria esta uma manifestação de alegria, de delicadeza, de parceria? Não seria uma profunda sensibilidade, uma imensa capacidade de transformar o humano que se é em algo mais nobre do que este animal reativo, reacionário, amansado e adestrado que somos?

Para nós, terapeutas materialistas-moleculares, Esquizoanalistas (quer se goste desse nome, ou não) não são casos de traumas ou necessidade de preencher um vazio. Não são doentes ou viciados. Não têm nada de errado, simplesmente. Pelo contrário, têm tudo de mais potente e original. São, para nós, casos de pessoas repletas (ao invés de serem faltosas), já inteiramente preenchidas de afetos genuínos e nobres pelos animais. Não são pessoas que tratam os cães como filhos, como humanos; pelo contrário, são pessoas que, como dizia Deleuze, se tornaram capazes de ter uma relação animal com o animal, ou seja, tornaram-se um pouco animais, tornaram-se capazes de aliar-se delicadamente aos animais, respeitando suas animalidades. São pessoas que devém-animal e se tornam um tipo de animal que não é mais apenas um bíbede, branco, europeizado, capitalista, macho, vencedor... São pessoas repletas de devires-animal, de um tipo de amor muito mais complexo e capaz de afeto que esse amor edipiano e civilizatório que muitos têm pelos animais. São pessoas que de fato respeitam os animais, tornaram-se capazes de um respeito muito mais elevado que este respeito humanizado que faz com que respeitemos os animais apenas na medida em que ficamos colocando neles imagens de atos e sentimentos humanos, ou seja, só respeitam os animais quando os humanizam e os tratam a partir da identidade, a partir da mesquinharia de apenas respeitar aquilo que se pode igualar a nós. Ora, é preciso tratar os animais como animais! É preciso nos tornarmos animais com os animais!

Deixo muito claro que, para mim, estas pessoas que vivem com tantos animais orgulham nossa espécie, honram o pouco de pêlos e caninos que ainda temos. São capazes de um tipo de força que só os não corruptos podem ser capazes: aproximar-se dos instintos e torná-los algo da mais potente beleza.
Por isso é que Nietzsche define o homem corrupto, a raça de homens corruptos como sendo aqueles que abandonaram seus instintos, sua nobreza.

Faço um ode às pessoas capazes de afetos tão nobres quanto viver com inúmeros animais, a começar pelos seus devires-animal!!
Animais são animais... e alguns humanos, ainda bem, são também!


domingo, 30 de outubro de 2011

Verão Insone


A madrugada no céu é silenciosa

Lenta

Tal como é da natureza das nuvens

A madrugada cheira a brisa roxa

Mas meu coração notívago é percussivo

Estrondoso e veloz

Venta e lança-se no azul enegrecido da noite

Tal como é da natureza do mar

Faz espumas palpitantes e inquietas

E esta minha ventania noturna

Gosta de sentir sua presença logo atrás

Tem sorridente preferência

Por beijos e toques dos seus lábios em minhas costas

Esta minha pele extensa e sensível das costas

É como lago transparente

Não resiste ao menor toque de um projétil

Beijo teu

E revela o vidro cristalino de minhas sensações

Com pequenas palpitações dos poros

Todos os pequenos pêlos apontam para as estrelas

E assim, com o corpo em perfil

Na cama abafada de verão

Vontades de despertar teus olhos

Com minha boca em tua macia barriga

O mar em mim sopra com agitação

Tal como é da natureza das rosas

Dar sentidos do amar por ti

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Esquizodrama sobre Espaço Público e Arte na Semana da Liberdade Criativa na UNESP-Assis



Semana passada, dia 21, tivemos o prazer de estar novamente na universidade em que estudamos (Ângela e eu) , a UNESP (Universidade Estadual Paulista), câmpus de Assis. Fomos convidados pelo Coletivo Esponteneísta de Assis, formado pelos alunos do câmpus, para oferecermos um Esquizodrama.

Parêntesis: Eles haviam conhecido nosso trabalho quando havíamos participado, com Esquizodrama também, no evento Clínica da Diferença, convidados que fomos por uma de nossas mestras maiores, a Profa. Marília Muylaert, promotora do evento. A professora Marília, juntamente com a profa. Ciça, foram as duas grandes iniciadoras e responsáveis pela "educação afectivo-filosófica" que recebemos. Hoje temos muitos outros mestres, muito queridos, mas ela duas foram as que começaram a forjar o material de que é feito nosso coração hoje. Fecha parêntesis.

Bem, gostaríamos de agradecer muito cordialmente, aos amigos do Coletivo Espontaneísta, pelo convite que nos fizeram e pelo carinho e respeito com que nos receberam.

Além da alegria de voltarmos à nossa eterna Terra do Nunca, foi muito fortalecedor para nós poder oferecer um esquizodrama problematizando o uso do espaço público e o seu povoamento a partir da arte. Foi uma vivência suavizante, agradável e intensa. Vimos performances alegres e leves como tecidos flamulando no ar ou, como disse um dos participantes, com sentimentos de ave. Saímos com a idéia de que precisamos fazer mais cócegas no espaço, preenchendo-o de intervenções coloridas e provocativas.

Mas, também gostaríamos de parabenizar o Coletivo Espontaneísta, pela iniciativa e pelo cuidado que tiveram com a organização do evento. Estava tudo muito bonito, num espírito real de liberdade, criatividade, coletivismo e amizade. Havia, além de oficinas, um festival de música, que aconteceu no nosso querido Buracanã, um gramado acolhedor e espaçoso, perfeito para uma experiência como esta.

Agradecemos e parabenizamos com alegria e de coração, desejando que cada vez mais, construamos experiências e práticas de liberdade, que estimulem a inventividade diante da vida. Porque Assis entra em nós, mas nós também semeamos Assis por aí!

Abraços cordiais aos unespianos assisenses!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Educação pede ares de aurora!


Faz alguns dias postei um tópico falando da corrupção que sustentamos em nosso corpo e falei rapidamente de como transformarmos os tipos de força que alimentamos passa por uma reforma na educação. Dizia de como precisamos fazer da educação, um território de fortalecimento e criação de forças ativas, transformando seu estado atual, que é de produzir corpos reativos, reacionários, adoentados e submissos.

Pois bem, cerca de dois dias depois dessa postagem, me deparei com a notícia de que uma professora na França havia ateado fogo no próprio corpo, na frente de seus alunos, no pátio da escola, após uma discussão com eles!! (Quem quiser, pode ver no site:
http://br.noticias.yahoo.com/professora-francesa-ateia-fogo-ao-pr%C3%B3prio-corpo-ap%C3%B3s-discutir-com-alunos.html)

Terrível ironia! Trágica lucidez que passou inadivertidamente por mim!(??)
Pois gostaria de aproveitar esta notícia para reafirmar a gravíssima necessidade e também meu (nosso) sonho, minha (nossa) luta, meu (nosso) desejo e meu (nosso) trabalho de reforma na educação, em todos - repito, TODOS - os seus níveis, seja no âmbito das políticas públicas, seja no nível mais micro-relacional, ou no nível afetivo. Sonho e trabalho para que um dia possamos ter uma grande e transversal reforma na educação, como a que aconteceu com a saúde pública e com a saúde mental. Enquanto educador, dentro de uma universidade pública, trabalho para que, não apenas haja uma transformação nos paradigmas educacionais, mas principalmente, nas práticas e intervenções educacionais. Confesso que é bastante angustiante, bastante difícil, especialmente quando desejamos que os alunos rompam com o consumismo de conteúdos, com a passividade escolar em que foram produzidos sujeitos, com o tecnicismo e com o arrefecimento da potência crítica e criativa.

É bastante marcante quando, como no caso desta notícia, a professora entra em uma agenciamento desesperado (talvez enlouquecido) e literalmente burn-out (síndrome de burn-out é o nome mal dado ao mal cuidado e analisado problema do adoecimento por causa do trabalho, sendo que burn, em inglês, significa queimar)!!! Dizia a notícia que a professora tinha um modo muito rígido de ensinar!!!

É exatamente para isso que gostaria de chamar a atenção aqui. Precisamos, de uma vez por todas, ultrapassar os paradigmas rígidos, controladores, baseados em tirania e poder, que permeiam a educação. A rigidez só faz adoecer, seja aos educandos, seja aos educadores. A tirania cria encontros e relações doentes. Não é à toa que professores, junto com policiais militares e bancários, são as classes que mais adoecem em virtude do trabalho!!

Ao mesmo tempo, precisamos trabalhar para não confundir e definir a liberdade de maneira reativa, apenas enquanto ausência de coação ou determinação. Não cabe também crer religiosamente num espotaneísmo, por que, como digo e também Nietzsche e Deleuze dizem, somos espontaneamente reativos, reacionários; espontaneamente também somos escravos e fascistas! Não podemos definir a liberdade por aquilo que ela não é, mas por aquilo que ela pode ser!

Este tópico não pretende ter fim, mas colocar em discussão o problema da transformação na educação, da transvaloração de todos os valores dentro da educação. Este é um dos meus desejos, é uma de minha utopias ativas e tem sido meu angustiante trabalho junto de meus alunos.

Confesso, é muito fácil desejar recair em tirania, é muito fácil querer se adaptar. Já senti isso muitas vezes! E vejo: muitos alunos são voluntariamente servis, tamanho o envenenamento pelo processo de escolarização que sofreram, inclusive na faculdade.
Sigo desejando e combatendo por uma nova educação e, se há alguma honra neste corpo nipônico, quero sustentar este valor durante toda minha vida como educador.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Multiplicando os sentidos da delicadeza


Compartilho aqui um pouco do que venho pesquisando, enquanto cultivo e estudo, acerca da construção de um corpo artístico na dança do ventre. Segue um trechinho de um artigo, no frescor de sua concepção:

Cultiva-se na dança do ventre um tipo sensibilidade no corpo dançante, que o torna uma caixa de ressonância às flutuações de humor musical, pois a dança desenha todas as nuances dos instrumentos presentes na música. Essa capacidade do corpo dançante de fazer esta leitura afinada às nuances sonoras de cada instrumento com suas relações de velocidade e lentidão, requer de quem dança sensibilizar-se também às minúcias dos modos de expressão de seu próprio corpo, reinventando-os. É nesta reinvenção que a delicadeza se acopla à magia criando multiplicidade, ou seja, colocando para funcionar elementos antes distanciados e incombináveis. A magia, portanto, como atualização de devires, de forças reais; a magia como diversa do misticismo, o qual só pode existir por força de crença e retorno do mesmo.

Corrupção como Sintoma de Escravidão: alerta nietzscheano junto à marcha contra corrupção



Há dois dias, em várias capitais do país, houve milhares de pessoas marchando com vassouras nas mãos, pedindo limpeza no país. Sim, todos nós desejamos que a corrupção seja varrida do mundo político de nosso país.

Nós, aqui neste espaço, gostaríamos de, primeiro, deixar nosso apoio a este movimento. Já fizemos muitas marchas por aí eu especialmente fiquei muito feliz em ver nos jornais que havia milhares de pessoas nas passeatas, pois atualmente precisamos comemorar quando conseguimos unir um grupo de 100 pessoas.

E é este o ponto que eu gostaria de explorar aqui no blog. Além de publicizar nosso apoio a este movimento desejoso por uma higiene política, gostaríamos de contribuir, deixando um pouco do que andamos estudando sobre Nietzsche e a corrupção.

O filósofo bigodudo diz: corrupção é sintoma! (livro: Além do Bem e do Mal) Que quer dizer isso? Até onde vemos, quer dizer que não é causa de nada, mas apenas sintoma, isto é, conseqüência de um mal mais profundamente instalado. Nietzsche diz que a corrupção é sintoma de termos nos tornado animais ressentidos, seres dominados pelas forças reativas.

Então, expliquemos melhor. Forças reativas são aquelas forças de conservação da vida, são forças adaptativas. Pois bem, de início isso parece bom... mas estas forças só tem capacidade de atuar no sentido de manter a vida como está, ou seja, fortalecer um status quo, uma conjuntura ou composição de forças, seja ela qual for. Se quiséssemos usar uma palavra marxista, diríamos que são forças reacionárias, literalmente conservadoras. É que estas forças reativas são justamente as que se opõem as forças ativas, as quais são produtoras, inventoras, criadoras, doadoras de vida. Vejam, são as forças reativas que se opõem às ativas, pois as ativas não se opõem a nada, elas simplesmente criam, agem, começam. Nisso destaca Deleuze (livro: Nietzsche e a Filosofia), que as forças reativas são aquelas que só conseguem agir na medida em que limitem a potência das forças ativas. Além disso, as forças reativas são qualquer força que, tenham a força que tenham, estejam separadas daquilo que podem. Um zebuzero uberabense diria: “Ah! É o touro castrado!” Sim, as forças reativas são castradas, são separadas de sua potência. Mas isso, não por um processo edipiano de castração, que considera que só tem pé na realidade a força que aprendeu a conviver com a castração. Diferentemente, as forças reativas são castradas porque são tomadas de ressentimento, são tomadas pela impossibilidade de agir, de criar. Ainda que uma interdição viesse, um força ativa poderia seguir sendo ativa se fosse capaz de sustentar e criar um modo de fazer sua potência valer. As forças reativas, por outro lado, apenas aceitam o mundo como está, aceitam a lógica do possível e do impossível, contentam-se com este binarismo.

Em outras palavras, diríamos foucaultianamente, que as forças ativas são capazes de reisistir, de fazer resistência ao poder, em nome de sua potência de criar vida. Já as forças reativas apenas se contentam em conformar-se, resignar-se, aceitar o mundo limitado que chamam de realidade.

Mas bem, o que teria isso tudo a ver com a corrupção? É que a corrupção dentro dos grandes aparelhos de poder não passa de sintoma de uma corrupção muito mais sutil, mas também muito mais extensamente espalhada: a corrupção diária e cotidiana de nossas forças. Lutar pela ausência de corrupção pode ser pouco ainda! Ora, se a corrupção é sintoma, há algo mais profundo pelo qual devemos lutar. Algo que não consta na carta dos direitos humanos, mas é infinitamente digno de ser defendido. Trata-se de uma luta transversal, trans-disciplinar, mas também trans-classe trabalhadora. É preciso lutar para mantermos vivas nossas forças ativas! Diz Nietzsche, é preciso defender as forças ativas das reativas. Ora, o que isso quer dizer em termos práticos?

O que entendo é que devemos procurar compreender como, em cada gomo de nossa pele, em cada interstício de nossa vida, estamos diária e cotidianamente sendo corrompidos. Primeiramente pelo trabalho, com o qual só é possível ter uma relação ambígua, já sempre há mais-valia. Mas, mais profundamente, somos corrompidos em cada decisão que somos obrigados a tomar no sentido de aceitarmos a realidade como está, de sermos separados de tudo o que podemos, de tudo o que somos capazes de criar.

E acho que é com isso que sonham alguns revolucionários quando pedem greve geral. E é com isso que sonharam os movimentos de 68. Sonhavam, eu sonho, com uma compreensão de que somos todos corruptos, em algum nível, de que, trapaceando um sistema de circulação de verbas, ou não, somos corruptos. Não precisamos embolsar nenhum dinheiro ilicitamente para sermos políticos e corruptos. Todos já sustentamos uma política de vida, todos já temos nossas forças separadas daquilo que podem. Inclusive nós que marchamos em passeatas!

Por que digo isso? Porque, vejamos, quando há uma marcha transversal, que não se liga a uma categoria trabalhadora, ou a um problema especificado, pouca gente aparece. Por exemplo, se fizermos uma marcha pela cultura, ou pela transformação na educação, mal conseguimos juntar uma centena de pessoas, mesmo que todos saibamos que um dos lugares que mais separam nossa força daquilo que podemos é a escola, mesmo sabendo que é na escola que aprendemos a arte do ressentimento, da submissão e da resignação. Vejam, não estou retirando meu apoio à marcha da corrupção, deixado no início deste texto! Sigo apoiando e, se pudesse teria estado lá, como estive em várias!

A questão que coloco, aproveitando o ensejo é: o que fazemos de nossas forças ativas?? Estamos lutando por coibir sintomas apenas? Na minha opinião, sim. Lutamos demais por corrigir uma dor de cabeça com analgésico, em vez de compreendermos que nossa dor de cabeça tem a ver com a vida que somos coagidos a ter em nome da adaptação às instituições, em nome de manter contratos formais em detrimento dos encontros consistentes e afetivos.

Entre outras coisas, defendo que, se não transformarmos nossa educação, se não formos capazes de, ainda que localmente, transformarmos a educação num território em que aquilo que vence sejam as forças criativas, as forças ativas, enquanto não embarcarmos em lutas transversalisantes, em que se problematize mudanças nos menore valores de vida, ainda seguiremos sendo escravos, seguiremos corrompidos. São os valores que nos corrompem, somos corruptos por vivermos e sustentarmos e desejarmos certos valores. Um exemplo. O filme “Sempre ao seu lado”, conta uma história ocorrida no Japão, de um cão da raça Akita (lê-se ákita), que diariamente acompanhava seu dono até a estação de trem para ir trabalhar e, no fim da tarde, no horário exato do dono voltar, chegava na porta da estação para ir buscá-lo. Na versão americana deste filme, o dono é um professor universitário americano que cria este cão, da mesma raça, Akita. Em um momento, quando o cão é ainda filhote, o dono tenta brincar jogando uma bolinha para ele pegar, mas o cachorrinho não dá a mínima. O dono insiste várias vezes e muitos dias, mas nada... Daí ele vai conversar com um colega de trabalho japonês sobre isso. “Por que seu cão faria isso de buscar a bolinha?” responde este colega. “Ora, para ganhar um biscoito ou para ganhar um carinho, um elogio.” Diz o dono do cachorro. Ao que responde o colega japonês. “Meu amigo, esse cão é japonês, é incorruptível! Não vai se vender por um biscoito.” Bom, além do orgulho que tenho de que parte de mim é japonesa (e bastante japonesa!), acho que esse filme nos coloca uma coisa interessante. Enquanto ainda fazemos os movimentos e lutas com metas, pensando em objetivos a curto prazo, estamos ainda sendo corruptos, pois são objetivos que o poder tem como satisfazer. Se seguimos lutando por sintomas, não rompemos com o imediatismo que caracteriza nossa escravidão. Sim, o imediatismo é sintoma de povo escravo, de país colonizado pela exploração européia, porque só um escravo não tem futuro, só um escravo não pode sonhar com algo maior do que uma pequena liberdade imediata, com um fim de semana livre, com a cerveja no fim do dia, com um amor pela metade, com um salário 10% mais alto. Só quando já fomos dominados por forças reativas é que não somos capazes de construir um futuro, processualmente, e ficamos desesperados por soluções imediatas, apaziguamentos de sintomas.

Não estou falando de desabitarmos o presente, de não darmos lugar ao acaso, mas de aprendermos a fazer da vida um processo, uma construção. De vermos que certos problemas são transversais e requerem intervenções processuais em diversos setores simultaneamente, e soluções que sejam sustentadas por um período de tempo suficiente para que as forças ativas se revigorem e voltem a criar. E de lutarmos para que a corrupção não seja algo que acusamos nos poderes do outro que está lá no congresso nacional, na prefeitura, na associação de bairro. Também precisamos nos limpar de nossas forças reativas, de nossa corrupçãozinha mais cotidiana, mais embrenhadinha em valorzinhos mesquinhos que ainda sustentamos apenas para ganhar um biscoito.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Rio Grande


Mexe difícil tarde
onde aquele jeito feliz
mau guarda a graça da falha surpresa
Moça perto da enorme água

sábado, 8 de outubro de 2011

Travessia


Neblina cinzenta, cheia de respingos de cor indefinida

Uma estrela do mar desabada na areia soluça seus

últimos

gotejos

de vida

A vida míngua frente a sua própria voracidade

Contrai-se para não sucumbir

Expira vida, expira

A carne lateja

Fissuras tendem ora a se abrir, ora a se fechar

Axilas fedem

Entranhas inchadas pulsam ora largo ora num limiar mais miúdo

Um ventre passa a enxergar as minúcias da vida

Silenciosamente

Soluça

Grita

Se esfola

Se agita

Se contorce

A travessia é a fronteira da mistura

Fervem mucosas desenganadas

Um rio encontra com o mar

Rio vermelho

Mar leitoso

Espraiam-se mutuamente

Choram espumosos

Tartarugas desovam na areia

Uma revoada rasante de passarinhos fura o horizonte

É primavera

Uma garça levanta vôo

Enquanto a maritaca gargalha

Cotidiano


Todos os dias
um leão por dia...
Pia, vida! Pia!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Passando



Uma imensa e frondosa nuvem

passa junto com o vento seco e fresco

no céu do meu coração

E ele tenta se mover numa revoada de folhas de bambu

Laminadas, cortantes e sinuosas

Libélulas perdidas entre o sol e a água

É como se tudo fosse aflição

Milhares de canetas coloridas riscam todo o meu corpo,

Todas de uma só vez, ao mesmo tempo

Todos os rios do mundo correm por mim

Pensam que meu fôlego é mar

Quando na verdade é um pequeno lago

Onde cães e carneiros bebem água

Mas não é como aflição

É manhã

reconectando, respirando...


Olá amigos e parceiros!

Estamos, depois de muito tempo, reativando as postagens de nosso blog. Iniciaremos com uma postagem semanal, que deve variar entre poesia, reflexões dos impasses ético-micropolíticos de nossa atuação, notícias de nossos trabalhos, tópicos sobre arte, sobre educação e sobre nossa militância.
Desta vez estamos nos propondo a cuidar bem deste espaço de encontros e trocas!

Estão todos convidados a comentar, nos contactar e criarmos encontros! Abraços cordiais!