Devir é um conceito da Filosofia e denomina transformação intensa da vida, a partir dos encontros que construímos. Inspirados por este conceito, oferecemos nosso espaço e nosso trabalho para que possamos produzir transformações, as quais sejam por uma vida alegre, criativa e engajada social, política, ecológica e eticamente.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Poesia de férias

Fazia muito tempo que não compartilhávamos uma poesia nossa. Mas gostaríamos de não deixar isso descuidado em nosso blog.
É impressionante como a disposição criativa fica esvaída quando temos que trabalhar muito.
Andava me sentindo completamente improdutivo e até um pouco boçal, por não estar criando quase nada de delicado, de intenso e artístico.


Evidentemente, não pretendo ser grande poeta. Mas sou amador, no sentido essencial da palavra.
Então vai aí uma poesia, concebida graças a um pouco de descanso e férias.
Oferecemos esta poesia a todos os que cultivam um pouco de frescor e arte na vida.




Complicado

Sou a carne folheada de minhas cores e pétalas
Tenho a face marcada de todas as histórias de final sem rumo
Durante um dia quente
Um dia destes cansados e salgados
Os poros de meu rosto suam lipídios animalescos
Que querem respiros viníferos e inventados,
Viní-feras
Meu suor é bicho que rosna por frescor
E cheiro de quitanda de maçã

 E quando olho este mim no espelho remexido da água
Vejo que só somos tanto quanto imagens
Tênues e finas, vaporosas
Da grande caricatura mascarada
De todas as máscaras insuspeitas
E também daquelas já dedilhadas

Noites com nuvens densas e luas estourando platina
Trazem um pouco de curvas para a o sono
Por isso o corpo não dorme
Enquanto cada linha obscura de cabelo
Não terminar seu jeito de tricotar lascívia

E quando olho este mim no vidro opaco da sala de visitas
Vejo que não somos por mais que vértices
De um polígono que tem tantos lados
Quanto mais redondo se faz
Quanto mais rola
como carroça com criança passeando

Esta é a confissão
De alguém que é todos mundo
Mundície
E tem quando em vez
Um bife de tempo
Para viver um sabor de cambalhota baquiana
E arterial artería

Vivo criações solavancadas,
Pulsadas como vaga-lume