Uma questão de dobra

Durezas que cerceiam: comportas de fluxos. Muro-barragem-parede-cerca

Afetos-Cerrado de músculos-galhos retorcidos
Matéria-cascalho entulho durezas encavaladas
Da força que dobra currais
Do afeto que se dobra em choro
Entroncamentos-mil
Vincos-vínculos a serem dobrados d'outro modo
Mesma força-Outro dobrar
Dobrar currais em jardins de girassóis
Dobrar o choro em pés andarilhando asfaltos
Foi numa dobra o Manicômio
Numas outras a Cordilheira dos Andes
Foi noutra ainda nosso gostoso Beijar
Duma planície subterrânea um Vulcão
Dos quatro lados iguais de um simples papel um Belo Dragão.

Acompanhar acompanhantes

Esta intervenção foi realizada pela dEVIR a convite de um grupo de alunos do curso de Teologia da PUC-Campinas, responsável pela produção de um Seminário sobre Abortamento provocado, para a disciplina Bioética.

Lá fomos nós. Falar sobre o assunto do momento, mas sobretudo, falar sobre assunto tão delicado.

Que direções tomar? Que afecções seguir, cartografar? Que valores criar? De que ferramentas dispor?

Algumas linhas definidas: é preciso experimentar sair do discurso, explorar os corpos tão endurecidos pelas determinações externas, para que encontrem o que sentem mais do que saibam o que pensam ou o que devem dizer a respeito de tal assunto; importante acompanhar acompanhantes; fundamental não resvalar nos juízos, nos pressupostos, porque primordial acompanhar afetos, dar-lhes passagem, legitimá-los, desconstruindo nossas certezas a cada encontro – parceria para acompanhar afetos, pessoas e não avaliar situações; declamar poesias; precioso desindividualizar, coletivizando.

Nosso norte? Buscar sempre a composição das diferenças, a coletivização das vivências e a união entre o engajamento político-ecológico-social com a sensibilidade, a delicadeza.

Para falar sobre acompanhar... acompanhamos. Para falar sobre parceria... construímos parceria. Para falar sobre encontros... encontramos. Para falar sobre modos de vida possíveis... os criamos. Falando sobre sentimentos... sentimos. Juntos. Lado a lado.Parceiros. Empreiteiros. Aventureiros. Inventores. Atores. Experimentadores. Delicadamente.

E experimentamos disposições, composições, afecções. Produzimos novos modos de encontrar o outro.

Para além da aridez do tema, pudemos acompanhar afetos. E fizeram-se outros modos de vida. Pudemos até sentir alegrias.

Revigorar a militância micropolítica

Já faz alguns meses... venho tendo pouca paciência com a idéia de que "afinal, em alguns momentos, é preciso a norma, é preciso flexibilizar e aceitar as coisas".

Para mim, isso é aquilo que Deleuze chama de pensamento cansado. É irritante e profundamente baixo quando se diz que flexibilizar é sinônimo de "enfim aceitar as coisas como estão"! Complicada é a noção de que a radicalidade é perigosa. A rigor, somos todos radicalidades! Somos todos diferenças radicais, irreptibilidades radicalíssimas. O perigo, a meu ver, é a da tirania, do despotismo generalizante. Radicalismo é muito diferente de tirania, embora estas duas coisas possam se confundir facilmente. Uma brisa é radical, especialmente num dia quente de verão! Uma folha que cai no outono é pura radicalidade! Um cabelo castanho claro é radical diante de um cabelo pretinho! Mas não há nada de tirano nisso. Não se trata de diferença de grau, de quantidade, mas de natureza, de estirpe, de ética!

Quando se diz "afinal, há regras para todos" lança-se mão de uma espécie de democracia do espírito resignado, que quer nivelar a todos, porém, no mais baixo nível. É o que se faz quando não se quer esgarçar o corpo e o pensamento, é a estratégia de tranqüilização, de um apaziguamento morno das vontades sanguíneas de transformação e expansão! É um modo de calar a criatividade, a inventividade e a experimentação. Se o estado de coisas não permite, então que se esgarce o pensamento para se CRIAR possibilidades! Sejamos realistas, queiramos o impossível!! Este já foi o lema de uma geração desejosa por transformações radicais nos modos de vida.

É extremamente triste e irritante quando intelectuais, pretendendo passar-se por precavidos e politizados, cantam com uma estranha força na voz os perigos de ser capturado pelas relações de poder e pelo capital, dizendo, "também se deseja o poder", ou "nunca se está fora das relações de poder". Só que, afirmar tanto o poder, louvando-lhe tanto suas presunsoças forças, é também uma terrível forma de desejá-lo, é um jeito tacanho de dar mais poder que o próprio poder sonha em ter. Enganchar-se tanto no poder do poder é uma forma de afirmar o poder, de querê-lo. Expressar o pessimismo ressentido e o cansaço da vontade de agir, inventar e mudar através de um discurso aparentemente engajado e atento é coisa profundamente repugnante! Não há pior traição!

Tudo o que eu não quero é me tornar uma autoridade espiritual coquete, como diz Deleuze, ou um militante paz e amor de terno e gravata.

Televisão dos desafogados

Pra que a pele-cotovelo não se espalhe por todo corpo

Prefiro assistir às janelas.

Oficinas de Origami na Comemoração da Luta Anti-Manicomial

No dia 18 de maio, à tarde, estaremos presentes na Comemoração do Dia Mundial da Luta Anti-Manicomial, que acontecerá na Lagoa do Taquaral, no bairro Taquaral, em Campinas.

Vamos promover oficinas de origami - dobradura artística de papel - regada a poesia e alegria. Como diz Deleuze: "A ciência da matéria é a arte do origami..."

Aos interessados, falaremos também um pouquinho do conceito de "dobra", presente no pensamento dos autores com os quais trabalhamos.

Os contatos estão aqui na página do blog.

A oficina é gratuita e aberta a todos os interessados! Ficaremos muito contentes de recebê-lo para compartilhar um pouquinho desta arte!

O pai que esticava a cabeça para o filho

Outro dia estava andando com o Rogério na calçada de uma casa de muro baixo.
Nesse muro havia um garotinho, de mais ou menos 2 anos. Ele queria andar no muro.
A mãe repreendeu: "Sai daí menino!"
O pai: "Você quer andar aí?" E sorriu: "Só se você miar".
Continuei andando maravilhada pela resposta do pai. Depois de alguns instantes vi o garotinho andando num muro bem alto e o pai acompanhando em baixo. Os dois se comunicaram e o garotinho concordou em descer.
Pensei: "Quero ser assim quando eu crescer!"
Esse fato rendeu até um poema que estará no livrinho de poesias da dEVIR, em breve...

Curso de Introdução à Esquizoanálise (Filosofia da Imnência) O pensamento de Guattari e Deleuze.

Contemporaneamente, a intensa volatilização dos valores e das relaçoes, acompanhada paradoxalmente, por um recrudecimento das regras rígidas de conduta e dos modos de vida pré-fabricados, têm trazido a sensação coletiva de violência, falta de consistência e ausência de possibilidades de vida, que não estejam galgados no valor do consumo e do capital.

Nascida do encontro de Félix Guattari e Gilles Deleuze, dois grandes pensadores contemporâneos, a Esquizoanálise (ou Filosofia da Imanência), oferece uma multiplicidade de instumentos e conceios teóricos, práticos, metodológicos e éticos para uma aborndagem e intervenção nas áreas de Saúde, Psicologia, Educação, Filosofia e Ética, que considere toda esta complexidade e necessidade de abertura do pensamento e percepção que demanda este panorama atual.

O curso está aberto tanto a profissionais das áreas referidas, quanto para os demais interessados.
Um primeiro módulo introduzirá os principais conceitos deste pensamento.
Um segundo módulo estará contemplando a utilização destes conceitos para o trabalho na Saúde, na Educação, na Psicologia e demais intervenções de cunho social.

Haverá dois encontros para a experimentação dos possíveis participantes, que serão realizados nos dias 26 e 29 de fevereiro, às 19:30h, na R. José Vilagelim Neto, 66 - bairro Taquaral, na cidade de Campinas.

Contatos e informações: (19)3342-9446/ (19) 8155-0612/ (19) 8138-0300

Facilitador-disparador do curso: Fernando Yonezawa, psicólogo formado pela UNESP (Assis), Mestre em Educação pela Univ. Fed. do Rio Grande do Sul, participante do grupo de pesquisa cadastrado no CNPq "Guattari, Deleuze e Foucault - Elos e Ressonâncias", pesquisador bolsista pela FAPESP por dois anos.