Devir é um conceito da Filosofia e denomina transformação intensa da vida, a partir dos encontros que construímos. Inspirados por este conceito, oferecemos nosso espaço e nosso trabalho para que possamos produzir transformações, as quais sejam por uma vida alegre, criativa e engajada social, política, ecológica e eticamente.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Oficina Corpo(i)ética em Mar del Plata (Argentina) nas Jornadas Gilles Deleuze

Com muita alegria e honra estaremos nos dias 3 e 4 de outubro em Mar del Plata, na Argentina, para oferecer uma oficina de nossas práticas artístico-educacionais.

Este trabalho, que chamamos de Corpo(i)ética, consiste em realizar experimentações corporais coletivas, pensando-as a partir de conceitos de Guattari e Deleuze, bem como de Nietzsche, Spinoza, Foucault. Também os trabalhos de importantes artistas como Maura Baiocchi, Lygia Clark, Marina Abramovic, Artaud e Hélio Oiticica, nos inspiram e servem de fonte de estudo e pesquisa.

Nestas experimentações, a arte e seus recursos expressivos nos fornecem meios para que corpos humanos e inumanos se afetem, formando composições insuspeitas de novas forças. Elementos sinestésicos, exercícios de força e expressão e a diversificação do ritmo respiratório nos possibilitam criar um espaço intensivo, no qual os corpos se compõem e se decompõem, de modo a terem seus regimes de sensibilidade e pensamento problematizados. Então, a potência desta problematização é que implica na possibilidade dos corpos se educarem em seus modos de sentir. Portanto, concebemos a educação não como formação de sujeitos, mas como um processo intenso de produção de encontros artísticos (poéticos), capazes de metamorfosear as forças dos corpos e seus modos de relação consigo próprios.

Assim, partimos também da ideia de que a Educação e a Clínica são campos a serem transversalisados, de modo que em ambas as áreas se imprima a questão das forças que constituem os corpos e das potências que os expressam.







terça-feira, 10 de setembro de 2013

Artigo fresquinho de nossa Juliana Bom-Tempo sobre Performance e Educação

Com muita alegria divulgamos e compartilhamos mais um artigo publicado por uma das integrantes de nosso coletivo. É o texto da Juliana Bom-Tempo, doutoranda em Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), pesquisadora da arte da performance. O trabalho, que trata da relação entre a arte da performance e Educação, foi publicado na revista Paralaxe, da PUC (Pontífica Universidade Católica) de São Paulo, a qual se foca em publicar trabalhos ligados à Filosofia da Arte e estudos sobre estética.

Abaixo, vai o resumo do texto e, logo em seguida, o link para o artigo completo. Também, algumas imagens de uma intervenção performática urbana, realizada pela Juliana, junto com alguns de seus estudantes.

Resumo
Este trabalho se propõe a pensar a arte da performance na interface com a educação como analisador das práticas cotidianas. Diante disso, a performance é aqui pensada como elemento agenciador de processos educativos que mobilizam e deslocam o cotidiano enquanto modos de vida pré-estabelecidos e sedimentados no dia-a-dia contemporâneo. A educação e a performance possuem aproximações ao se configurarem como práticas de experimentações vinculadas ao tempo presente, ao imprevisível, ao inesperado que produzem mobilizações de signos rígidos e definidos pela cultura. Tais formas de existir, pautados no ideal moderno de paz, calma e sucesso, produzem adoecimentos e fracasso banindo os embates de forças vinculados a própria vida. Frente a essas configurações do mundo contemporâneo, os processos de subjetivações trazem a urgência de desvios que produzam novas possibilidades de se viver, promovendo uma grande saúde, vinculada á vulnerabilidade que se abre ao novo e à invenção.




quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Artigo nosso publicado em revista da Universidade de la República de Uruguay sobre as experimentações Corpo(i)éticas

Com muito orgulho, divulgamos e compartilhamos nosso primeiro artigo que trata das experimentações corporais, coletivas e artísticas que temos chamado de Corpo(i)éticas. O texto acaba de sair do forno, na Revista Fermentário, que é uma revista de Educação da Universidade de la República de Uruguay. Este texto foi escrito junto com minha companheira, Ângela Vieira, tendo sido iniciado durante a ida para o evento Clínica da Diferença III, na UNESP de Assis-SP.

Para Ângela Vieira: pelo nosso amor, que tecemos cotidianamente
para que ambos possamos estar sempre de braços abertos e fortes

Lembramos que este é um trabalho desenvolvido coletivamente, ao longo de cinco anos, com a contribuição de muitos parceiros, amigos e mestres, que fazem e fizeram parte do Coletivo Devir. No atual momento, dedicamos este artigo muito carinhosamente a nossa grande parceira e amiga Juliana Bom-Tempo, psicóloga esquizo, performer e doutoranda em Educação pela UNICAMP, com a qual temos desenvolvido a proposta de que tratamos no texto. Trabalho que, além disso, em breve será realizado como Oficina-imersão Corpo(i)ética, em um sítio em Campinas e também no evento Jornadas Gilles Deleuze, em Mar del Plata, Argentina. Aliás, também há um artigo da Juliana neste mesmo número da revista.

 Segue o resumo do trabalho e, logo abaixo, vai o link de nosso texto na revista, que está disponível on-line, podendo ser baixado completo em formato pdf. Esperamos que gostem e possam desfrutar desta leitura que mistura nossas pesquisas sobre Deleuze e sobre o tema do cuidado de si, em Foucault.


Corpo(i)ética: experimentações corporais como prática produtora de um 
cuidado de si e de uma educação dos afectos. 


Resumen: El objetivo de este texto es presentar un trabajo práctico que 

desarrollamos hace cinco años, en lo cual ofrecemos experimentaciones 

corporales-artísticas, con la finalidad de abrir un espacio de producción de un 

cuidado de si mismo inmediatamente unido a la constituición de un 

conocimiento o educación de los sentidos y de los afectos. A partir de una 

reflexión conceptual entre la noción del cuidado de si que Foucault nos trae y 

algunos conceptos de Deleuze – como cuerpo, educación y ética – estaremos 

exponiendo los fundamentos filosóficos y algunos extractos de nuestra práctica 

educativa experimental. De este modo, tenemos la intención de despejar la 

relación que pensamos existir entre el cuidado de si, la educación y nuestras 

prácticas experimentales.

Palabras-clave: cuerpo, cuidado de si, educación, ética.


http://www.fermentario.fhuce.edu.uy/index.php/fermentario/article/view/121


segunda-feira, 19 de agosto de 2013

5º Curso de Introdução à Esquizoanálise (Filosofia Micropolítica de F. Guattari e G. Deleuze)

Convidamos a todos os profissionais e estudantes de áreas como Psicologia, Educação, Terapia Ocupacional, Artes, a participarem de nossa 5ª edição do Curso de Introdução à Esquizoanálise.

Nós do coletivo Devir, enquanto coletivo de profissionais educadores e terapeutas, estamos há 8 anos estudando e pesquisando rigorosamente a Filosofia Micropolítica de Guattari e Deleuze. Além disso, cada um de nós sempre veio cultivando com muita dedicação as suas Artes (dança, artes marciais, desenho, performance) e, com base nestas pesquisas e nesse cultivo, viemos realizando diversas práticas, entre análise institucional, oficinas artísticas, cursos, oficinas educacionais etc. sempre buscando levar estes trabalhos aos espaços públicos (Centros de Saúde, Centros de Convivência, praças, museus municipais, movimentos sociais e ONGs).

Mais informações na chamada abaixo.

montagem artística desta imagem: Danielen Brandão

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Transmutar o amor: a revolução mais ousada

Há muito tempo, tenho pensado que, para além (ou aquém) das grandes revoluções políticas, há uma revolução muito mais ousada (e perigosa), que certamente traria tantas e tão extensas transformações, que até os mais aguerridos militantes estremeceriam de medo.

Aliás, é uma revolução que não deixa de ser política; porém, faria política de um modo radicalmente novo e distinto. Seria uma revolução, sim, absolutamente política, mas justamente no sentido de política enquanto problematização e produção de modos de relação e encontro, nos quais se module a potência dos corpos e o seu poder de agir em direção ao mais nobre, ao mais elevado, ao mais potente.

Essa revolução de que estou falando é a revolução em nossos modos de amar: certamente a mais grave das revoluções.  

pétalas amam outro vermelho e se engalfinham para mergulhar (fotos e montagem: coletivo dEVIR)

O fato é que, apesar de tantas revoluções tecnológicas, científicas, artísticas e políticas, ainda vivemos uma profunda miséria nos modos de amar. Ora, revolucionar os nossos modos de amar seria também uma revolução artística. Em muitas de minhas aulas, gosto de citar Foucault (no livro Ditos e Escritos vol.V), quando diz que os gregos antigos tinham produzido uma tal variedade de modos de relação de homens com homens, que é muito difícil conseguirmos compreendê-las a partir da restrição e pobreza de nossos modos de encontro: não se entende se dois homens eram amantes, ou amantes e mestre-discípulo, ou amigos...

Revolucionar o amor seria e é uma prática profundamente artística; é preciso ser infinitamente artista para fazer uma revolução em nossos modos de amar. E aí, também vem as perguntas: que ética e que força vital nasceria daí? Que nobrezas surgiriam daí? E vejam que falo de amor, não de bundalele, suruba, relação aberta, suingue, beijar várias pessoas numa micareta: tudo isso é de uma caretice nauseante e que dá uma preguiça... clichês!

Oh! Pós-modernos, descolados, libertários, seriam capazes disso??

Ainda não fizemos esta revolução e tantos tentaram e têm tentado. Muitas das religiões, especialmente o cristianismo, querem se fazer passar por agentes dessa revolução, quando só fazem o amor recair, de maneira muito subliminar e astuta, sobre formas de encontro cada vez mais caricatas, ossificadas e monstruosas.


Para corroborar comigo coloco aqui um trecho de entrevista com Deleuze, que acolheu muito isso de que falo, mas que já sentia e pensava muito antes de encontrar este texto:

"Em primeiro lugar, há relações de amizade ou de amor que não esperam a revolução, que não a prefiguram, embora sejam revolucionárias a seu modo: elas têm em si uma força de contestação que é própria da vida poética (...) Neste caso, há mais budismo zen do que marxismo, mas há muitas coisas eficazes e explosivas no zen." (DELEUZE, 2006: p.187 - livro A Ilha Deserta; texto chamado "Gilles Deleuze fala da Filosofia") 

Também indico o filme Os sonhadores, para quem tenha se sensibilizado com isso que digo.

E, para seguir provocando e incitando que ousemos em produzir novos modos de relação amorosa, deixo também um vídeo que fala disso e certamente vai arrepiar a muitos, seja com horror moral, seja com alegria poética. Creio que o vídeo dará continuidade a meus argumentos. Mas é claro que ele só mostra mais uma possibilidade, não se pode dizer, evidentemente, que se trata da grande solução; há muitas revoluções amorosas possíveis e outras ainda virtuais, insuspeitas.

O amor exige seus devires!

http://catracalivre.com.br/geral/cidadania/indicacao/documentario-mostra-dia-a-dia-de-adeptos-do-poliamor/






sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Oficina-Imersão Corpo(i)ética em Campinas: por uma Educação dos Afetos, por uma Clínica Poética

Corpo, cor, ética, poiesis (criação), poética, se cruzam em nossa prática para tensionar os modos de sentir e viver e fazer vibrar a capacidade artística da vida de sempre inventar-se a si própria.

Corpoiética é a palavra que acreditamos ser capaz de expressar a natureza de nossa prática, para a qual a educação, a clínica e a arte devem perder suas fronteiras disciplinares, porém, mantendo suas potências intrínsecas.



Para nós, a educação passa pelo trabalho com as forças que nos afetam e nos compõem, a clínica pela mutabilidade dessas forças e a arte pela estética deste nomadismo.

Dessa maneira, esta 2ª edição da Oficina-Imersão pretende, novamente, a partir de recursos artísticos advindos da dança, das artes plásticas e da performance, trabalhar os encontros de corpos humanos e inumanos propiciando outros modos de relação com o sentir e o agir, para dar lugar a outros sentidos de vida; sentidos que sustentem a provisoriedade das formas, mas mantenham a consistência dos modos de relação fortalecedores da vida.

Vagas limitadas: 20 participantes

Será uma experiência para que a vida possa poietizar em nossos corpos!


- Público-alvo: educadores, terapeutas, artistas e todos os interessados, profissionais e/ou estudantes. 

- Quando? 19 e 20 de outubro de 2013.

- Onde? Sítio Catavento - Campinas (SP)

- Inscrições e informações: com Fernando Yonezawa, fefoyo@yahoo.com.br /
telefones: (34) 9232-8022  e Juliana (19) 8226-0600.

Para se inscrever, envie o comprovante de depósito por e-mail (foto ou imagem escaneada), juntamente com os seguintes dados: nome, RG, CPF, telefone e profissão ou curso em que estuda. 

Dados bancários para depósito: 
           Banco do Brasil 
           Ag: 3141-0
           c/c: 32396-9
           (Fernando H. Yonezawa) 

- Valores: R$ 300,00 - Hospedagem, alimentação, toda parte prática e teórica inclusos.

- Facilitadores:

> Ângela Vieira – psicoterapeuta esquizoanalista, aprimorada em Saúde Mental,  com especialização em Análise Institucional e Clínica de Grupos e bailarina com especialização em Dança Oriental.

> Juliana Bom-tempo – psicoterapeuta esquizoanalista, Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), doutoranda em Educação pela Unicamp, professora de Psicologia da FAJ e performer.

> Fernando Yonezawa – psicoterapeuta esquizoanalista, Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Doutor em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do curso de Psicologia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), desenhista e artista marcial. 

Programação a ser lançada em breve!

domingo, 21 de julho de 2013

Sarau Natureza Mestiça: a alegria de Moebius (fechamento de minha vida na UFTM)

Depois de dois intensos anos de UFTM, gostaríamos de comemorar todas as alegrias, encontros, descobertas e lutas junto de todos os amigos, amigos-estudantes e parceiros. Mais uma vez, a Arte conduzirá nosso encontro.

Convidamos a todos aqueles que se sintam próximos de nós a esterem presentes e a participarem, trazendo e compartilhando sua Arte, sua alegria e sua sensibilidade neste Sarau, que tematiza o paradoxo do fim-começo; e a alegria artística da natureza, de inventar sempre mais vida, misturando cada coisa em toda coisa, criando seres de aurora.

- Quando? 01 de Agosto (meu último dia como professor da UFTM)

- Onde? Espaço do Coletivo Devir - R. João Modesto dos Santos, 293 
(atrás do Colégio Opção; travessa da Av. Odilon Fernandes à altura da pizzaria Fornace)

- Que horas? a partir das 21h

- Quanto? R$ 10,00 (ajuda de custo) + bebida



Natureza Mestiça: a alegria de Moebius

Quando uma volta se inclina na curva de um fim
o mundo gira num redondo nascimento

Anel ou banda de Moebius
Quando uma vida termina,
com ela morrem todos
com ela se vão muitos
E dessa fenda quebrantada
são paridos ovas e brotos de pétalas
vagueantes e ainda sem mundo

É a alegria de Moebius,
imprevisível
corrediça sobre uma única linha
que em cada término se faz germen
E se perde agitada por uma única banda
que toca todas as canções de circo, de guerra,
de torcida, de ninar, de morrer
e de amar


Alegria da artista naturante
de criar a continuação do insuspeito
mesclar a incerteza e a surpresa
mestiçar os cantos de pássaros com placas de tartarugas
fazendo do absurdamento,
sua lei de invenção

Alegria anelar da Natureza de,
em toda sensatez,
secretar em segredo a risada da divergência
Dança que enfia seiva no sangue
brânquias nos pulmões
para nadar no oceano da história desta vida
que vivemos juntos
que morremos juntos
mas vamos parir juntos
Misturando tudo de novo
tudo que em nós é novo
tudo que em nós é pulso
e cordial

Tum-tum, tum-tum, tum-tum
Não é a marcha fúnebre
é o coração floral de um filhote cego
é o andar trêmulo e combativo de um potro desplacentado
no aguardo do primeiro berro de vento
que faz sair do peito asas de rapina

Moebius torce a artista, que farejava o fim
quando o cheiro de sangue
era só de rebento

Toda aurora é uma quimera


sexta-feira, 14 de junho de 2013

As pessoas voltam a Tahrir: provocações sobre os protestos pelo Brasil


(texto apressado enquanto passagem provisória e inacabada)

Ar fresco produzido por bombas de fumaça e balas de borracha. Corpos modelados pela pujança da massa que se espreme nos coletivos (nem sempre devires).  Agora, remodelados pelas bordoadas dos policiais. Algo a mais acontece por aqui!


Os protestos são apartidários (então - e só assim - legítimos). Se há articulação com partidos políticos, ela ocorre de modo autônomo e independente, mas ainda sim referendado e determinado pela insatisfação popular. Oposição e situação, desanimai-vos!

Os valores e os aumentos das tarifas do transporte coletivo são apenas catalisadores e disparadores para a revolta popular (talvez um elemento derradeiro para o desencadeamento da onda de protestos). Tal revolta não traduz apenas uma insatisfação com as condições de vida (acesso aos bens e serviços básicos a manutenção da sociedade), mas também faz referência, mesmo que de forma indireta, à insatisfação com o próprio funcionamento estatal no Brasil (indignação com a classe política-eleitoreira, corrupção, máquina estatal onerosa, ostentosa e pouco eficiente e etc). É o estopim.



A energia revolucionária é jovem ou pueril, mas não carrega uma ingenuidade infantilizada e nem reduzida no sentido de se fazer referência a uma determinada faixa etária. É jovem enquanto potência que demanda o novo e, mais que demandar, intenta em produzir o novo, superando a acomodação em velhos valores e atitudes, destituída do medo da bota do Estado – por isso estando a mercê de sentir o seu peso. 
Os protestos tem um caráter peculiar, pois assinala para uma ruptura do paradigma comportamental do brasileiro. Os conflitos diretos com a política revelam que há uma progressiva superação da passividade que é historicamente confundida com pacificidade. O Brasil tem a fama de ser um país pacífico, o que não é de todo o mal, quando essa pacificidade não se revela uma absoluta passividade e inércia. 
A dita violência é oriunda de encontro abrupto um fluxo de produção desejante e uma parede dura, um espaço estriado, uma força oposta ao vetor revolucionário do desejo (força que intenta a manutenção plena do status quo). A violência nada mais é do que o encontro de duas forças opostas ou o encontro de duas forças vetoriais em sentidos ou orientações diversas... É o corte. É a lógica da fálica-falida da castração se tentando fazer atuante no âmbito social. Nessa perspectiva não cabe justificar, legitimar ou não a violência, porque ela escapa do registro moral, talvez se faça melhor discutida a partir de um espectro ético (imanente).   Assim, quem sabe repensemos que violentou quem, visto que o Estado guarda para si o direito de exercer a violência, monopolizando-a... 



Existem algumas críticas em relação a pouca definição e sistematização da pauta de reinvindicação. No entanto, como já dito, o MOTIVO disparador da reivindicação é apenas um estopim, a potência revolucionária está na MOTIVAÇÃO (palavras de meu velho amigo Max de Carvalho), ou seja, no próprio ato de protestar, de insurgir e se levantar contra uma lógica hegemônica que se faz presentificar por meio de suas pequenas com-formações microfascistas (abuso de poder da polícia, valor aviltante da passagem de ônibus, redução da maioridade penal, internação compulsória, exploração e precarização do trabalhado, copa do mundo). O que está para ser dito no protesto, já está dito no próprio ato de protestar. 
A pauta então seria a demonstração do poder popular? Ainda sim se adotarmos essa pauta, de viés altamente e inegavelmente produtivo, ainda é um estofo. A grande questão problemática ainda estaria localizada na necessidade de se definir e saber qual a definição da pauta das manifestações. O importante de saber nesse caso é que tudo isso é algo que não é tangível pelo crivo do saber e não carece de ser, é pura intensidade, diferença. O que passa pela lógica simbólica identitária é paulatinamente atropelado. 
Quando passam a demandar sentido lógico para o protesto e para qualquer atitude que tenha algum resquício de revolucionária, o mais próximo de uma resposta seria: o sentido que rege, é o sentido do desejo. Elas tomam as ruas, no fim das contas, porque assim desejam. E o que desejam afinal?
O desejo não tem objeto... ou melhor, o objeto sempre é parcial...e o desejo não deseja nada além de sua realização e para isso só se reafirma enquanto potência por meio da produção do novo, nesse caso, por meio de dispositivos coletivos...
Agenciamentos desejantes SEMPRE são revolucionários, ou ganham essa roupagem por si só, porque esse fluxo desejante sempre encontra em seu caminho a parede (ou a bota) dura. 
O evento ou o acontecimento não é o protesto, mas sim o que ele gera nas pessoas - afetações que nos fazem ir as ruas, nos mobiliza para escrever, conversar, brigar com a polícia  e acima de tudo promove um ponto de viragem. 
Desse modo, escapará mesmo do espectro da racionalidade pura e realmente deve escapar para ser de fato inventivo, pois a própria lógica da racionalidade dominante deve ser colocada em xeque. É um levante que ainda se manifesta enquanto PRODUÇÃO inconsciente, manifestando-se enquanto engajamento consciente. Quando se tenta e quando enfim, sistematizam algo, ou conseguem aquilo que estão reivindicando ou simplesmente são capazes de avaliar se pelo o que estão lutando vale mesmo a pena, (quando qualquer uma dessas coisas acontecer e irá acontecer), o levante perderá naturalmente intensidade. Então é estabelecido um novo estado de coisas. Para mim, isso pouco importa, importa mesmo é o processo: a constituição anárquica momentânea, a zona autônoma temporária, a autogestão criada que será o momento de transpassagem e de criação de singularidade... o evento (como disse meu chegado Bruno Costa)...  o evento não é o que isso vai repercutir enquanto mortificação legalista ou juridicista, mas a linha de fuga e a afetação – evento ou horizonte de eventos (roubando e subvertendo o conceito caro à física moderna). 



Não importa o que será feito no dia seguinte, como se perguntaria Zizek. No áspero e enrijecido Dia Seguinte as pessoas não retornariam a praça Tahrir no Egito, após derrubar seu presidente, ou não insistiriam em se manter em Wall Street. Afinal, o que elas querem afinal, o que desejam? Simplesmente desejam!
Talvez uma rebeldia sem causa de minha parte! Mas só há rebeldia sem haver uma causa, ou quando se toma todas às outras, ou talvez tomando a própria rebeldia como causa.
O dia seguinte já estará atravessado por aquilo que aconteceu no entre, por essa Utopia Ativa e a Estética da (R)existência!!!!
Ficam algumas breves provocações...

Por Pedro Costa e alguns interlocutores pelo caminho...



quarta-feira, 1 de maio de 2013

Na parceria para divulgar o evento "Clínica da Diferença III"

Com muita alegria e honra estamos ajudando a divulgar o evento "Clínica da Diferença III - Acolher, Acompanhar, Transmutar", que acontecerá no início de Junho (nos dias 4, 5, 6 e 7), na UNESP (Universidade Estadual Paulista) de Assis-SP.

Fomos convidados a participar pela nossa grande mestra Marília Muylaert e iremos oferecer uma mesa de debate e duas (!!) oficinas com experimentações corporais e artísticas.

Alunos do curso de Psicologia da UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro) estarão apresentando e divulgando seus trabalhos com educação e arte realizados como projetos de extensão. Um grande orgulho para nós, que em menos de dois anos pudemos construir uma rede forte de alunos apaixonados pela filosofia micropolítica de Deleuze e Guattari. 

Além disso, muitos outros amigos, parceiros e profissionais que admiramos estarão por lá, oferecendo seu conhecimento e sensibilidade.

Abaixo, o blog do evento. Entrando na página, no alto, do lado direito, haverá um link para a programação.

http://clinicadadiferenca3.blogspot.com.br/




sábado, 9 de março de 2013

Ressonâncias do Sarau "Linha de Fuga do Vôo da Bruxa" comemorativo ao Dia das Mulheres


Corações em revoada assaltaram-se de seus ninhos: vôos de linha de fuga
Que plana sobre o roxo do incomensurável
Sentido tão próprio da mulher

Não se caber num si mesmado
Deixar-se escorrer e escapar de tempos em tempos
Um certo tanto de desmesura

Fazer-se obscuro e entremeado como um céu noturno
Secretando alegrias inauditas

Nosso sarau esteve assim
Enriquecido de um riso coletivo
De um deslumbre que só se encontra sob o feitiço
Deste devir-mulher que não cabe nunca
E só aparece excessivo e transbordante
Escapando e riscando uma linha corrediça
Para o lugar em que a palavra deschega

Embebedamo-nos com os afagos de cantos
De danças,
Músicas,
Cenas
Performances

E só deu para suportar tudo isso porque
Nosso sarau foi mesmo de nós tantos
Deliciado em corpos coladinhos
Apertados para dar clareira à arte
À delicadeza, à fúria, ao belo sem forma, ao lindo sem cara
Tudo o que não tem como caber no peito de um só

O sarau cumpriu a que veio
Fazer do encontro uma poesia
Mas de toda poesia
Um gole longo e inebriante de alegria

Certamente, honramos
A todas as mulheres-feiticeiras
E é possível ser mulher de verdade sem ser feiticeira?
E é possível ser feiticeira sem encantar
Com a alegria que transborda os corações?
três feiticeiras cantando Elis!






Agradecemos muito carinhosamente aos alun@s
Ana Zago, Laura Moraes, Luana Rodrigues, Luciana Trajano, Fabio Barbosa pela parceria, força e criatividade na produção, concepção e realização deste evento. 

Também agradecemos e parabenizamos de coração às alunas Vanessa e Valeska Oliveira por sua apresentação e por estarem cultivando os seus devires-mulher através da dança oriental com tal força que nos incitou a conceber este sarau. 

Agradecemos ainda a todos os artistas e amantes da arte que trouxeram suas artes para povoar nosso sarau com o que há de mais belo, forte e sensível.

Agradecemos cordialmente a Marina Scalon pelas fotos concedidas. 

E claro, nosso afetivo muito obrigado a todos os parceiros e amigos que estiveram presentes, fazendo deste evento uma noite encantadora!



terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Sarau comemorativo ao Dia das Mulheres: “Linha de Fuga do Vôo da Bruxa”


Convidamos a tod@s @s amig@s,parceir@s e alun@s a participar deste evento comemorativo ao Dia das Mulheres, o Sarau "Linha de Fuga do Vôo da Bruxa"

Um ode de alegria às mulheres feiticeiras, que outrora foram perseguidas e amaldiçoadas pela inquisição, pela incompreensão. 

Uma homenagem ao devir-mulher de nós mulheres e de todo aquele que cultiva forças sutis e minuciosas no destempero do vivo.

Traga sua porção poética, sua feitiçaria mestiça!

Compartilhe com a gente seus vôos, seus respiros suaves ou raivosos: dançando, tocando, cantando ou trazendo rascunho de uma escrita, pintura ou desenho. 

Teremos a participação especial das irmãs Oliveira (Valeska e Vanessa) com uma coreografia de dança oriental, cheia de graciosidades e sutilezas. 

Lembrando que este evento pretende arrecadar recursos para que um outro vôo seja possível: a ida dos alun@s da UFTM ao Instituto Inhotim em Belo Horizonte, um dos maiores museus de arte contemporânea do Brasil.

Por isso, estaremos vendendo bebidas durante o sarau.


- Quando?: 07 de março (quinta-feira)
- Onde?: R. João Modesto dos Santos, 293 - Uberaba (travessa da Av. Odilon Fernandes, altura da pizzaria Fornace)
- Que horas?: 21h
- Entrada: R$2,00 + uma arte de autoria própria ou R$ 5,00



segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Reverberações da Cosmofagia Noturna


No fim das contas: vendemos
Condição inerente aos nossos tempos

E o que há de bem afeito ao consumo
Tomamos como uma isca perigosa
Em tempos em que se compra e se consome o que nos priva de roubos

Arriscamo-nos ao roubo.

Roubo, RoUBo
Da tranqüilidade que nos engorda
RoUBO
Da pele intacta e lisinha
ROubo
Dos saberes bem assentados
ROuBO
Da imagem conformada
ROUBO
Das certezas e seguranças macias
RouBo
Das intimidades que nos fecham num privado
ROubo
Dos prazeres fáceis e finais felizes

Pesquisamos e propomos condições para que infinitos RoUbOS se dêem
Romper com os cercados, com nossas atitudes possessas.
Com os Édipos que privatizam afetos

Esta é a condição para uma vida mais forte e inventiva.
Devir selvagem, devir água, devir vegetal.

Devir n territórios, misturas e inumanidades



Podemos agredir
Podemos defender
Não o ego, mas processos de produção de diferença
Não identidades, mas a experiência de sempre transitarmos.
Não o privado, mas o público transbordante em temperamentos.
Não a comodidade, mas as tensões que nos levam a outros modos de existir







Agradecemos de coração aos alunos e amigos 
que participaram desta nossa proposta de experimentação.
Também agradecemos carinhosamente a participação de 

Yanina Paganelli e Silmara Bergamo
na construção e realização deste trabalho.

Fotos:  Yanina Paganelli




quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Cosmofagia noturna, mesmo com chuva, acontecerá

Uma clínica-poética, se faz no enfrentamento e composição em dialogo com as forças inumanas que atravessam nosso habitat.

Quando a chuva torna-se um potencial impedimento

Mas é de uma cosmofagia que estamos falando,

a mudança de plano faz-se necessária para afirmar este elemento inumano e cósmico.

A chuva levou-nos a um plano interessantíssimo, inclusive de transformação em nossa maneira de produzir oficinas.

Bem-vinda a chuva e bem-vindo o novo plano 
que irá nos propiciar compor com ela e ainda assim cuidar dos possíveis desconfortos orgânicos que ela possa nos causar.

Devir - natureza com ou sem chuva. Devir-água na chuva, molhar-se de noite e cosmo. 

Primeira hora do dia 02 de fevereiro, sábado, agasalhados (calça, tênis e, para os mais friorentos, blusa) de maneira a não impedir o movimento do corpo, encontraremo-nos na Praça Santa Teresinha.

Boa viagem a todos que vierem!





sábado, 26 de janeiro de 2013

Oficina clínico-poética: cosmofagia noturna no espaço público


Uma hora do dia, um pedaço de terra sob um pedaço de céu, o cheiro da madrugada, o silencio da cidade numa fresca e arborizada praça.

Estaremos produzindo uma experimentação, em que pretendemos deixar o corpo ser fagocitado pela força destes elementos cósmicos. A isso é que estamos chamando de cosmofagia. 

Comporemos exercícios sinestésicos, os quais possibilitarão justamente que a noite, a praça, o cheiro do céu, arrastem nossos corpos a passar por um processo artístico, poético, metamorfoseante e, por isso, clínico.

Convidamos a todos os amigos e parceiros a virem participar desta inusitada experimentação.

Quando? 02/02

Onde? Praça Santa Terezinha (Praça do Cú do Padre - em frente à padaria Beliske)

Que horas? 1h da manhã

Ajuda de custo: R$ 10,00

Inscrições antecipadas: até dia 01/02 pela manhã (para que disponhamos de material para todos) via e-mail angelitacaju@yahoo.com.br com os seguintes dados: nome, contato e profissão.

Vir com roupas leves e calçados que permitam movimento.