Devir é um conceito da Filosofia e denomina transformação intensa da vida, a partir dos encontros que construímos. Inspirados por este conceito, oferecemos nosso espaço e nosso trabalho para que possamos produzir transformações, as quais sejam por uma vida alegre, criativa e engajada social, política, ecológica e eticamente.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Educação pede ares de aurora!


Faz alguns dias postei um tópico falando da corrupção que sustentamos em nosso corpo e falei rapidamente de como transformarmos os tipos de força que alimentamos passa por uma reforma na educação. Dizia de como precisamos fazer da educação, um território de fortalecimento e criação de forças ativas, transformando seu estado atual, que é de produzir corpos reativos, reacionários, adoentados e submissos.

Pois bem, cerca de dois dias depois dessa postagem, me deparei com a notícia de que uma professora na França havia ateado fogo no próprio corpo, na frente de seus alunos, no pátio da escola, após uma discussão com eles!! (Quem quiser, pode ver no site:
http://br.noticias.yahoo.com/professora-francesa-ateia-fogo-ao-pr%C3%B3prio-corpo-ap%C3%B3s-discutir-com-alunos.html)

Terrível ironia! Trágica lucidez que passou inadivertidamente por mim!(??)
Pois gostaria de aproveitar esta notícia para reafirmar a gravíssima necessidade e também meu (nosso) sonho, minha (nossa) luta, meu (nosso) desejo e meu (nosso) trabalho de reforma na educação, em todos - repito, TODOS - os seus níveis, seja no âmbito das políticas públicas, seja no nível mais micro-relacional, ou no nível afetivo. Sonho e trabalho para que um dia possamos ter uma grande e transversal reforma na educação, como a que aconteceu com a saúde pública e com a saúde mental. Enquanto educador, dentro de uma universidade pública, trabalho para que, não apenas haja uma transformação nos paradigmas educacionais, mas principalmente, nas práticas e intervenções educacionais. Confesso que é bastante angustiante, bastante difícil, especialmente quando desejamos que os alunos rompam com o consumismo de conteúdos, com a passividade escolar em que foram produzidos sujeitos, com o tecnicismo e com o arrefecimento da potência crítica e criativa.

É bastante marcante quando, como no caso desta notícia, a professora entra em uma agenciamento desesperado (talvez enlouquecido) e literalmente burn-out (síndrome de burn-out é o nome mal dado ao mal cuidado e analisado problema do adoecimento por causa do trabalho, sendo que burn, em inglês, significa queimar)!!! Dizia a notícia que a professora tinha um modo muito rígido de ensinar!!!

É exatamente para isso que gostaria de chamar a atenção aqui. Precisamos, de uma vez por todas, ultrapassar os paradigmas rígidos, controladores, baseados em tirania e poder, que permeiam a educação. A rigidez só faz adoecer, seja aos educandos, seja aos educadores. A tirania cria encontros e relações doentes. Não é à toa que professores, junto com policiais militares e bancários, são as classes que mais adoecem em virtude do trabalho!!

Ao mesmo tempo, precisamos trabalhar para não confundir e definir a liberdade de maneira reativa, apenas enquanto ausência de coação ou determinação. Não cabe também crer religiosamente num espotaneísmo, por que, como digo e também Nietzsche e Deleuze dizem, somos espontaneamente reativos, reacionários; espontaneamente também somos escravos e fascistas! Não podemos definir a liberdade por aquilo que ela não é, mas por aquilo que ela pode ser!

Este tópico não pretende ter fim, mas colocar em discussão o problema da transformação na educação, da transvaloração de todos os valores dentro da educação. Este é um dos meus desejos, é uma de minha utopias ativas e tem sido meu angustiante trabalho junto de meus alunos.

Confesso, é muito fácil desejar recair em tirania, é muito fácil querer se adaptar. Já senti isso muitas vezes! E vejo: muitos alunos são voluntariamente servis, tamanho o envenenamento pelo processo de escolarização que sofreram, inclusive na faculdade.
Sigo desejando e combatendo por uma nova educação e, se há alguma honra neste corpo nipônico, quero sustentar este valor durante toda minha vida como educador.