É impressionante como a disposição criativa fica esvaída quando temos que trabalhar muito.
Andava me sentindo completamente improdutivo e até um pouco boçal, por não estar criando quase nada de delicado, de intenso e artístico.
Então vai aí uma poesia, concebida graças a um pouco de descanso e férias.
Oferecemos esta poesia a todos os que cultivam um pouco de frescor e arte na vida.
Complicado
Sou a carne folheada de minhas cores e pétalas
Tenho a face marcada de todas as histórias de final sem rumo
Durante um dia quente
Um dia destes cansados e salgados
Os poros de meu rosto suam lipídios animalescos
Que querem respiros viníferos e inventados,
Viní-feras
Meu suor é bicho que rosna por frescor
E cheiro de quitanda de maçã
E quando olho este
mim no espelho remexido da água
Tênues e finas, vaporosas
Da grande caricatura mascarada
De todas as máscaras insuspeitas
E também daquelas já dedilhadas
Noites com nuvens densas e luas estourando platina
Trazem um pouco de curvas para a o sono
Por isso o corpo não dorme
Enquanto cada linha obscura de cabelo
Não terminar seu jeito de tricotar lascívia
E quando olho este mim no vidro opaco da sala de visitas
Vejo que não somos por mais que vértices
De um polígono que tem tantos lados
Quanto mais redondo se faz
Quanto mais rola
como carroça com criança passeando
Esta é a confissão
De alguém que é todos mundo
Mundície
E tem quando em vez
Um bife de tempo
Para viver um sabor de cambalhota baquiana
E arterial artería
Vivo criações solavancadas,
Pulsadas como vaga-lume
Um comentário:
Poxa!!! as vezes vale a pena esse tempinho de "esquecimento" da poesia. Depois sempre vem uma boa manifestação diosiniaca que nos deixa embriagados...
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